quinta-feira, julho 09, 2009

Ando pelas ruas e olho para todos os lados. Vejo mais do que procuro, o tempo todo. Sempre. Inapelavelmente. São as mulheres rápidas, com suas calças de ginástica, seus cabelos presos, as mulheres de pernas cariocas, shortinhos e cabelos dourados, as meninas que andam com seus queixos harmoniosos, com suas bochechas coradas, balançando seus corpos.
De certa forma, respondo-as. Do meu jeito, catwalking nas passarelas nas quais as calçadas se transformaram. Onde antes andávamos a pensar na vida, a olhar vitrines, simplesmente indo de um lugar para outro, hoje somos afrontados. Temos que nos colocar em nossos lugares. Abaixar a cabeça, olhar o chão e continuar nossos passos, esquecendo os manequins que, como no filme, ganharam vida e passeiam pelas ruas tramando contra os humanos normais.
Já não penteio o cabelo, já não conto mais as calorias do meu sanduíche de queijo branco e peito de peru, já esqueço de tomar banho e passar o desodorante, já não faço mais a barba, já aposentei a salada do meu prato.

E daí? Não é isso mesmo que eles querem? Que cada vez mais deixemos de querer estar em um futuro próximo ao largo deles, eu digo ao largo, não em proximidades. Porque ao abrirmos mão de estarmos ao largo, ainda que lá possamos sentir suas presenças, seus perfumes, ver os vultos ou as sombras de corpos perfeitos, deixamos de viver em fantasia e podemos pisar novamente em um mundo normal. Deixemos que eles se perpetuem, em bandos de bebês bem nutridos, a trocar fraldas na beira mar. Deixemos tudo para eles. As ruas perfeitas e torneadas, a paranóia, o tédio, a mesmice e o prazer, afinal, merecem. Em outros lugares somos mais felizes. Ou pelo menos podemos andar olhando para cima, olhando nos olhos e nos rostos de outras pessoas de verdade. Como nós mesmos.

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