quarta-feira, outubro 26, 2016

A página aberta do editor online é sempre um convite para escrever.
Passo por um momento de volta às origens, busco músicas que ouvi um dia, lá atrás. Hoje em dia, tudo é disponível e, baummanianamente, líquido.

Por motivos além de escolhas, não compro mais álbuns como gostaria, liquefazendo meus gostos em streamings. CDs são o passado, do qual não quero largar. A volta ao vinil é a busca desesperada por uma era em que tínhamos tempo para parar e escutar um disco inteiro, de cabo a rabo, lados A e B, ler as letras, ficar segurando a capa na mão, curtindo a arte, esperando chegar a hora de ir dormir porque no outro dia tinha aula de manhã cedo.

O que buscamos é uma volta às origens, queremos não ter que nos preocupar com dívidas, crises políticas e econômicas, com os filhos dos outros (ou com os nossos). Queremos ser livres, como nunca mais iremos ser. Quero, neste caso, eu mesmo, ouvir pela primeira vez um disco dos anos 90, estando nos anos 90. Quero tanta coisa que é melhor não querer.

parece triste. mas é assim.

quinta-feira, outubro 20, 2016

Somos frágeis, tão frágeis, que tivemos que criar caixas de concreto para colocar-nos dentro e sentirmo-nos protegidos (in order to feel safe). Uma queda, um escorregão, uma batida com a cabeça no banheiro e pronto. Fomos dessa para melhor. Uma infecção, uma bactéria pode querer aproveitar nosso corpo, quentinho e molhado, para se reproduzir, acabando assim com seu hospedeiro. Você. Eu, não, que tomo minhas vitaminas e faço meus exercícios matinais.

Estamos aí, flutuando no espaço, como diz Jason Pierce. Um meteoro pode cair e levar-nos à extinção. E não há dinheiro que nos salve. Um raio pode cair em sua cabeça, durante um beijo cinematográfico debaixo de uma chuva torrencial, coroando um encontro que vinha se alongando a anos. Tudo pode acontecer a qualquer momento. E continuamos andando, beijando debaixo da chuva, não escovando os dentes e, pasmem, vivendo.


Somos uma espécie fadada ao fracasso que, ainda assim, faz música e se agarra à existência com unhas, dentes e tudo o mais que puder ser inventado. Parabéns, seres humanos, por serem tão risíveis e se levarem tão a sério. Uma hora há de evoluirmos. Até lá, seguimos.



quarta-feira, outubro 19, 2016

Já faz algum tempo que o tempo aqui mudou. Começou a esfriar de um dia para o outro. Veio uma frente fria e o verão foi embora, assustado. Não houve transição. Foi de verão para outono de um dia para o outro. De quase 40,  temperatura caiu para 26. E assim ficou, até começar a cair aos poucos. Temos, em média, uns 20 graus de temperatura agora. Não me entendam mal, essa temperatura é maravilhosa, a ideal. E bem mais amena que a da Inglaterra, por exemplo. Mas o que me trouxe para este assunto tão genérico, o tempo, foi a proximidade do mar e a queda de temperatura.

Com isso, não me pergunte porque, comecei a sentir a maresia. E cheiro de maresia, friazinha, entrando nas narinas me leva pra casa. Mas que casa? O Leblon, claro. É o cheiro das noites de inverno, sentados em volta do cafezinho, quando aquela neblina vem entrando pelas ruas, tornando o Rio caliente em Rio temperado. É cheiro de família, de aconchego, de minh’alma carioca berrando de saudade. É sofrimento em um canto e de sorriso de canto de boca. É bom e é ruim, sabe? Como o Rio, talvez. Como nossas famílias, em seu microcosmos de conflitos e amores, tão imperfeitas e felizes.


Os dias já não são tão claros, o céu já não é tão azul e a praia está sempre vazia. Mas o cheirinho de maresia é só o que eu preciso para me aquecer até o próximo verão.    

quarta-feira, outubro 05, 2016

Estou ficando velho.
Meus amigos estão ficando velhos.
Meus pais estão ficando velhos.
Meus avós estão velhos, velhos.
Os discos que marcaram minha vida estão velhos.
O que eu gosto é velho.
Iremos, a partir de agora, em mais funerais do que formaturas ou festas de 15 anos.
A noite não é mais minha morada.
Beber e usar drogas não faz parte da minha vida, mas poderia ser uma saída niilista, se fisse mais realista. Ou mais existencialista.
Estou velho. E o que digo não importa mais a ninguém.