segunda-feira, março 18, 2013

Antes aqui


Habemus Papam

Estou em frente à televisão e nela vejo, em close, a chaminé do Vaticano. Começa a sair uma fumaça. Branca. Habemus Papam.

Os sinos da igreja próxima ao meu trabalho dobram pelo novo Papa. Repórteres excitados gritam nos microfones, em transmissões recortadas pela má qualidade da internet do Vaticano. A multidão se aglomera na Praça de São Pedro, agitando bandeiras do Vaticano, da Polônia e até do Brasil. Começam os desfiles das bandas marciais. Música e festa emolduram os gritos de ordem, que decretam: E Viva o Papa!

Agora, parem tudo. Que onda é essa? Que clima carnaval na Bahia é esse que toma conta da transmissão, da Praça do Vaticano, dos católicos em geral? Não se esqueça, estamos falando da religião em que, não importa o que se faça, só existe vida em pecado. E Graça, só depois de morto. Da Igreja que foi erguida sobre ouros e pedras preciosas de todos os cantos do mundo, que se fortaleceu na aculturação dos índios, no massacre dos árabes e na perseguição da Inquisição. Onde fica, na história da igreja, a felicidade que emana de tantos sorrisos? Que esperança é essa, que dá ares por aí? Será em um mundo melhor? Alcançado como, com palavras de mais um velhinho vestido de branco?

Papa Francisco, agora sei, argentino, torcedor do San Lorenzo e matéria-prima para a maior quantidade de piadas sem graça por twittes ou posts no facebook. Ele apareceu na sacada, no Fantástico, o Jornal Nacional, na Folha, em sites de fofoca que descobriram até sua primeira namorada, em sites políticos que descobriram até seu vínculo com a ditadura e onde mais seja possível imaginar.

Não me lembro de tamanha capacidade de abstração da população mundial. Todos são crentes, em algum momento. A fantasia é a melhor realidade. Aparecem ateus, anticristãos, contrarreligiosos a negar e apontar. Falácia. Tudo em vão.

Ao primeiro sorriso, Jorge Mario Bergoglio conquista a todos com seu jeito bonachão. Um velhinho gente boa, que mexe com a gente, aflorando lembranças de avôs que já se foram, cercados de saudade. A vontade é de abraça-lo, buscando o conforto infantil que encontrávamos nos abraços do almoço de Natal ou em tantas ocasiões onde um senhorzinho de cabelos brancos e carinhoso nos fez feliz. Entre lágrimas nos olhos, um bom papado é o que nos resta desejar.


Habemus Papam by luis f taylor on Grooveshark
Antes Aqui



Foals – Holy Fire

É difícil começar a falar de uma banda da qual se gosta. O Foals vem me acompanhando (e eu, a eles) desde 2007. Dos primeiros singles aos lados Bs mais obscuros, aprecio basicamente tudo feito por eles. Há que se entender, no entanto, que não são um ato de encher estádios. Mas que, ainda assim, chama atenção com sua manufatura de boas canções cheias de nuances e pequenos detalhes, que criam um estranhamento típico do rock matemático, o math rock.

Então é chegado o momento e o Fogo Sagrado, terceiro cd/lp/álbum da banda, é lançado. Holy Fire não é um discão. O trabalho artesanal que era empregado em cada nota, no primeiro disco principalmente, dá lugar a um certo enfado. Ainda assim, Inhaler e My Number abrem com frescor os trabalhos. O vigor que elas apresentam só volta a aparecer em Out of the Woods e Providence. Pouco, para quem se acostumou a uma banda nervosa e cheia de energia que apresentava um desafio diferente a cada canção.

Mas não me entenda mal. É mais do que compreensível apresentar altos e baixos em uma carreira. Nas nossas mesmo, um dia estamos bem, em outros, nem tanto. O importante é não se deixar abater e seguir em frente. Adiante há sempre muito o que se conquistar. É por isso que já estamos aguardando o próximo (e quem sabe, o melhor) disco do Foals.  

























 - Pílulas 


Local Natives – Hummingbird

Os californianos do Local Natives lançam seu segundo álbum seguindo o mesmo estilo do primeiro, músicas quebradas e com boas construções melódicas. Isso faz com que, ao mesmo tempo em que soam fáceis, se tornam mais difíceis de serem assimilados. Um Coldplay que escreve por linhas tortas. Em certos momentos, beiram o rock coxinha, mas mantem-se valorosamente ao longo dessa perigosa fronteira, longe das fórmulas. Entre as melhores do disco estão Black Ballons e Breakers.
























Strange Talk – Cast Away

Há alguma coisa de diferente na água australiana. Faz algum tempo que bandas bebendo na fonte do nostalgismo aparecem por lá, com um nível de qualidade bem alta. O Strange Talk é mais uma delas e, apesar de um EP de estreia animador, seu primeiro disco não cumpriu as expectativas. Claro, está tudo lá: sintetizadores, a animação infantil, batidas dançantes... mas não dá liga. E ainda tiveram o disparate de deixar as melhores do EP - We Can Pretend e Eskimo Boy - de fora.