segunda-feira, janeiro 16, 2017

Hoje, estranhamente, não ouvi o despertador.
Não sei se ele tocou, de verdade. Mas estava lá, tudo ajeitadinho, hora correta, ligado...

Enfim, faz muito tempo que isso não acontece.
De qualquer forma, estou numa viés de baixa.
Entupo-me de café para ver se dou uma animada, coisa de cafeína/serotonina, mas tá difícil.

Hoje só estou triste e calado.

Quero fazer o que preciso fazer no trabalho e ir embora.

domingo, janeiro 08, 2017


- Vamos embora? -


Primeiros dias de 2017.
2017, meu Deus.
Parece que foi ontem que passava o perrengue e o medo de ter que encarar o bug do milênio.
E já essa eExpresão mesmo, morta e nterrada, parece ficção de livro de história.

Mas o que quero dividir aqui são as coisas do passadomrecente.
Em 2014, setembro, passgem na mão e muitas incertezas na cabeça, joguei-me em direção à Europa. Digo joguei-me e ressalto sempre esta palavra porque não houve um planejamento longo e especifico para isso. Claro, desde a compra das passagens ate o embarque foram mais de seis meses. Teve o aviso previo, as despedidas, o desmonte do apartamento, a tentativa de junatar algum dinheiro, a compra de libras... tUdo isso num cenario nacional ja pre-crise. As contas batiam na agua e a agua batia na bunda.
Vendi carro, peguei emprestimos e com algum dinheiro da vendas dos moveis do apartamento - era minha casa, ne, nossa casa - da Tijuca, viemos.

Viajo entre as pessoas neste texto pois, apesar deste ser um blog pessoal, e muito dificil dissociar a ida a Juliana, minha esposa em contrato. Mas essa e outra historia que quem sabe, conto outro dia.

Chegamos em setembro, dia 22, em Londres. Fomos para um quarto em um airbnb por uma semana, no oeste de Londres, em Acton. Fomos para lá, pois precisaríamos esperar para que o quarto que nos acolheria por pelo menos os proximos tres meses fosse desocupado. Este quarto, num apartamento de 3 quartos em Chiswick, caiu do céu. Eu, admito, morria de medo de chegsr em Londres sem um lugar para ficar. Não estava indo sozinho, não estava com uma mochila. Levava, acredite, DEZ malas. Algumas apenas com CDs e DVDs. Nao era uma viagem de ferias, era uma mudança. De vida. Ter um lugar, por menor que fosse, por menos tempo que fosse, me deu uma sensação de segurança e tranquilidade nos primeiros dias e semanas. Com tempo, poderia buscar algum trabalho ou mesmo outro lugar para morar, mas a partir de uma base.

Com o tempo atrás de mim, não imagino como seria se tivesse que cOrrer atras de um lugar para ficsr em Londres, assim que cheguei. Provavelmente o stress da situação e, mais importante, o desconhecimento total da realidade da cidade levariam a uma decisao equivocada e apressada. Os 3 meses, neste momento, seriam essenciais. E assim, foi. Fomos, uma semana depois, de Acton para Chiswick High Road. Levamos as malas de metrô, uma estação e uma caminhada de uns 20 minutos entre as casas. Passamos um domingo inteiro, dia 28 de setembro, fazendo isso.

Acabamos já de noite e pedimos um combo da Domino's pizza para comemorarmos com nossos novos roommates - Felipe e Flavia.
Outubro, novembro, dezembro... Os meses passavam voando. Tudo era novidade. Ainda no Brasil já pirava com a chance de ver bandas que nunca pensei ver ao vivo. Tudo, agora, estava aoa meu alcance. Comprei, antes mesmo de chegar em Londres, ingressos para 17shows.
Acredite, DEZESSETE. O primeiro deles, Fu Manchu, 3 dias depois de chegar. Estava aproveitando tudo de bom que Londres podia proporcionar e, enquanto isso, iamos gastando o - pouco - dinheiro que tinha guardado. Mas valeu a pena. Não há arrependimento de minha parte.


- Londres não é mãe, é madastra. -


Desde antes de chegar, meu pensamento sempre foi continuar a trabalhar na área de comunicação. Traduzi meu currículo e atualizei meu linkedin. Rá... Rá...Rá...

Como se fosse fácil assim. No Rio de Janeiro, companheiro, com amigos, família, experiência e minha língua materna, sofri para arrumar um emprego decente, imagina em uma das maiores cidades do mundo, onde concorro com gente de toda Europa (UK ainda era da União Europeia - ainda é, mas até quando?) e, por que não, realmente do mundo todo.

Chegava a mandar uns 50 currículos por dia, às vezes. Não funcionou. Nada funcionava. Nem uma entrevista. Ok, segui mandando currículos. Mas não podia ficar parado, seria fechar o caixão. Esperar o dinheiro acabar para voltar para o Brasil, sem economias, sem emprego, sem casa para chamar de minha...

Como já estava ali pela Inglaterra mesmo, comecei a pesquisar uns mestrados. Mandava uns emails para universidades, levantava preços de cursos, via uma possibilidade nova: estudar e me preparar para um trabalho, com novos conhecidos, novas ofertas e, quem sabe, uma novo ramo de atuação?

Numa dessas buscas online, me deparei com um curso de Marketing Digital. Entendi que era de graça, mandei meus dados, esperei o início, em umas três semanas. Ligam em meu telefone, alguns dias depois e começam uma entrevista longa, com mais de uma hora de duração (e eu sem saber porque). Ao fim, dizem que eles me ligariam falando se eu iria poder fazer o curso ou não. Na minha cabeça pipocaram um monte de interrogações. Mas enfim ligaram e disseram que sim, eu poderia fazer o tal curso e que deveria pagar a primeira parte até o dia X. PAGAR?! Peraí, pensei, não era de graça?

Bom, já tinha feito a entrevista, já tinham me deixado fazer o curso, que descobri, seria totalmente online... Paguei para ver. Não foi barato. Acho que foram quase umas duas mil libras. Seis meses de curso. Comecei e, mesmo muitas vezes, aos trancos e barrancos, terminei o curso. Mal sabia que o curso, sozinho, não abriria nenhuma porta magicamente.

Depois desses 6 meses (novembro - maio), já estava mais do que na hora de fazer algo. Resolvi que iria largar de mão essa de trabalhar somente na minha área e iria buscar qualquer fonte de renda. E saí entregando currículos perto de onde morava. Sempre tinham umas placas de contrata-se pelas lojas de lá.

Uma em especial me chamou atenção: Rock Buyers needed. Algo como Compradores com conhecimento de Rock, para um sebo/brechó ali em Notting Hill. Fui ao escritório deixar meu CV e me deram um teste para completar com umas perguntas de Quizz de Pub, tipo: qual o nome do segundo álbum do Manic Street Preachers ou de quem é o disco metal machine music? De 30 perguntas, acho que acertei umas 18. Obviamente não iriam me utilizar como comprador de rock.
Dei sorte neste momento, pois no escritório da loja, no segundo andar, estavam discutindo sobre o uso das redes sociais para vender mais coisas e eu, como quem não queria nada, disse que poderia ajudar, afinal, tinha acabado de completar um curso sobre isso. Eles se mostraram animados e me chamaram para voltar no dia seguinte, para ver como a loja funcionava. Eu tinha arrumado um emprego em Londres.


- Jura que é assim? -


No dia seguinte, apareci cedo, como pedido. Lembrei-me do primeiro dia no meu primeiro emprego - fui (lá se vão meus 17 anos) com uma camisa do Botafogo para o trabalho. Eu era um balconista (era 95, seríamos campeões brasileiros este ano, a camisa era um motivo de orgulho). Meu patrão, gente finíssima, me pediu para ir em casa trocar de camisa. Troquei. No dia seguinte voltei para trabalhar de bermuda - era verão no Brasil. Tive que ir correndo para a casa do meu pai pegar uma calça dele e ir pro trabalho. Aprendi nos dois primeiros dias que se vestir para trabalhar com o público exige muito mais pensamento que a gente acha. Ainda assim, escolhi uma profissão que me fez NUNCA vestir um terno em minha vida - nem tenho um até hoje.

Volto para o presente - agora já passado (praticamente 3 anos atrás - e caramba, como os anos voam agora...) - estreei na loja e fui alocado no brechó masculino. Fiquei um dia por lá, vendo como as coisas funcionavam, dei algumas ideias de como não confundir as chaves das vitrines - colei durex nelas com números e foi isso. No dia seguinte pediram para eu voltar. E fui voltando até o final d semana quando percebi que ninguém tinha me "contratado" ainda nem tinham me dado a senha do cartão de ponto eletrônico no computador, para contar minhas horas trabalhadas. Ganhava 7 libras por hora e tentava trabalhar por volta de 10 horas por dia, para juntar alguma coisa que pudesse ajudar a pagar o aluguel absurdo de uma quitinete. Depois de uma semana, me relocaram para o brechó dos refugos - existia uma certa hierarquia nas lojas - discos, roupas femininas, roupas masculinas, livros e quadrinhos, refugo das roupas 1, refugo das roupas 2 e tralhas e quinquilharias. 

Lá no refugo 2, a parte de cima da loja é cheia de tranqueiras e com algumas araras de roupas e a parte de baixo, o subsolo, é um emaranhado de restos de roupas baratas que ninguém quer comprar. E isso atrai um tipo muito específico de cliente, que quer comprar roupas baratas porque provavelmente não tem dinheiro para comprar roupas melhores e que acha que por isso pode descontar suas frustrações nos atendentes. Lá eu passava metade do tempo recolhendo sacos pretos de lixo cheios de roupas, colocando preço e tag de segurança nas peças. A outra metade do tempo, passava recolhendo peças de roupa que o pessoal provava e simplesmente jogava no chão. Limpava a loja quando chegava, e a todo momento precisava ficar de olho para ver se não tinha uma lata de Coca-Cola no chão ou um copo de milk-shake derrubado dentro dos provadores (sim, eu limpava isso tudo todo o tempo). 

Como vocês podem imaginar, era um trabalho ingrato. Saia com o pessoal do trabalho às sextas - às vezes - para um pint no pub e as pessoas eram bem legais. Todas meio perdidas na vida, algumas vivendo nos quartos em cima das lojas - eram umas seis enfileiradas numa área nobríssima de Londres. O dono das lojas? Um ex-beatnik lesado de droga que capengava e tinha acessos de fúrias, demitindo funcionários e os recontratando horas depois. Ainda assim, uma boa pessoa. 

Depois de quase um mês, perguntei se iriam me utilizar para outra coisa - o marketing digital para o qual me contrataram - e se a reunião com o dono da empresa para tratarmos disso (eu já tinha feito um  projeto de comunicação e tinha tudo anotado) iria acontecer. Logo quando comecei, me chamaram para falar com ele e eu comecei a discutir alguns pontos, como o SEO da página da loja, com links quebrados e a falta de atualização das redes sociais. Ele fez uma cara de "não entendi" e falou que precisaríamos fazer essa reunião com alguém que entendesse do que eu estava falando presente. hahahaha
Isso nunca aconteceu. Um dia, no horário de fechamento da loja, um dos sub-gerentes me chamou para conversar e disse que eles tinham chegado à conclusão que aquilo não era para mim. Que eu tinha que procurar alguma coisa no marketing mesmo e que já não precisava ir no outro dia. 
Por mim, tudo bem, disse. Na verdade, já estava um pouco cansado mesmo e não via futuro ali naquela bagunça empoeirada. 

E essa foi minha primeira experiência profissional na Europa. 

 - Tô sem emprego, o dinheiro está acabando, preciso de ajuda -