quinta-feira, novembro 16, 2017

“ Béli, esse é meu nome.
Ninguém =inda conseguiu me convencer que meus pais não estavam bêbados quando puseram esse =ome em mim.
Mas, de qualquer jeito, esse é meu nome.
- Béli, respondi. A morena sentada no balcão era mesmo =stonteante. O tipo de mulher que dá vontade de guardar numa moldura. E depois =assar o dia inteiro olhando.
- Como?
- Béli. B-E-L-I, com acento no E.
- Béli, igual... – ela deu um risinho, ficou =nvergonhada – béli?
- É, assim mesmo. Olha, se você não entendeu....
- Desculpa, ela me interrompeu. Odeio quando alguém me =nterrompe. Não foi isso que quis dizer. Eu perguntei se era béli igual a =elly. Belly, barriga em inglês.
- Deve ser. Não sei falar inglês direito. O que me =alta é vocabulário – Maldito vocabulário.
- Tadinho...
- Não tem problema. Sabe acho que meus pais estavam =êbados quando escolheram esse nome para mim. Meus pais e o escrivão que deixou =sso acontecer. Não conta pra ninguém, mas aquela era uma época muito =ouca. O mundo vivia bêbado, absorto em álcool.
- Não fala assim.
- Assim como? É verdade.
- Verdade? Ah, pára com isso. È ruim a pessoa guardar =ágoa, fica azeda. Pior ainda se for dos pais. Pais a gente não escolhe, a gente =ma. E ele só te deram um nome diferente.
- Barriga.
- O quê?!
- Você mesmo disse. Meu nome é barriga. Em inglês, =as ainda assim é barriga. E se você se chamasse tornozelo ou mão? Você ia =ostar?
- Espera...
Dessa vez fui eu que a interrompi. Percebi que ela também =ão gosta.
- Olha, eu já tenho muitos problemas com meu nome. Desde =oleque era só piada, brincadeira, todo mundo me sacaneando. Eu só vim =qui porque te achei uma pessoa bonita, legal, que podia ser diferente das outras. =chei que a gente pudesse se dar bem.
Me emocionei. Não tem jeito, me emociono muito fácil.
- Desculpa, eu não quis te magoar. Vamos fazer o =eguinte: a gente paga a conta e vai conversar em outro lugar. Aqui não é um lugar =uito propício para esse tipo de conversa. Tenho que me explicar direito. =á em casa tá legal?
- Tudo bem, enxuguei as lágrimas, mas não posso demorar =uito. Amanhã tenho que ir cedo visitar minha mãe no hospital
- Coitado...
Essa tá no papo.
- Pode ir saindo – funga – Deixa que eu pago =#8211; funga – te encontro lá fora.
Ela foi. E como foi. Andava como uma deusa. Que rebolado. A =onta chegou. Peguei o cheque, assinei. O atendente se aproximou pegou o =heque e leu meu nome.
- Poderia me mostrar sua identidade, senhor... Marco =ntônio.”
Coluna no London Burning sobre o Festival Dia D, em 2001


O Dia D ficou marcado na história mundial como o dia da Invasão =os Aliados na Normandia. Mas aqui em Vitória, capital do esquecido Espírito =anto, faz três anos que Dia D significa outra coisa. Ele agora é o nome dado =o maior Festival de Música Capixaba do mundo. São 14 horas de festival, =om bandas para todos os gostos e mais do que isso, espaço para artistas, =oetas, performers e DJs. Com um detalhe, todos têm que ser da terrinha. =/P>
Esse ano, a produção montou toda a estrutura necessária para = festival receber as 20.000 pessoas previstas, e o evento aconteceu da forma =ais tranquila possível, sem confusões. As pessoas se dividiam entre os =inco palcos (Vitória, Muqueca, Capixaba, Expressões, Artes), as =arraquinhas de comida e bebida, a pista de skate e o paredão para escaladas. =fanismos à parte, o que vimos esse ano foi a consolidação da já consolidada =cena capixaba" de rock e reggae (uma pergunta que não quer calar: por que =urgem tantas bandas de reggae por aqui?). Algumas bandas prontas para =stourar, outras nem tanto, mas todas com o objetivo de mostrar (para quem =esmo?) que o Espírito Santo é mais do que um pedaço de terra separando o Rio =a Bahia. Os destaques do Festival ficaram por conta de bandas já "famosas" por =qui. As que mais se destacaram no festival foram:
O Manimal, tocando seu rockongo (o congo é um ritmo típico =o ES), mostrou a mesma competência de quem já fez vários shows pelo =rasil e Europa, inclusive abrindo para gente como Skank e Nando Reis. Boas canções =ops e outras mais no estilo mistureba. Vale a pena tentar ouvir seus dois =iscos.
Casaca. Misturando reggae com uma pitada de congo (ele de =ovo), fez um dos shows mais concorridos do festival, explicado pelos sete mil =iscos vendidos de seu primeiro disco independente, em apenas algumas =emanas. Atenção gravadoras...
Pé do Lixo. Dois discos lançados, vencedor de uma das =tapas do Ultrasom, antigo programa da MTV. Um show já conhecido dos =apixabas, com muita energia e boas músicas. Destaques para Terra Prometida e =assacre, levantando poeira. A apresentação contou com um desfile de moda, =om roupas feitas com material reciclado.
Lucy. Tocou seu repertório "Mutantes", capitaneados pela =oderosa voz de sua vocalista, Manuela (Rita Lee está de volta). Se você gosta =e Mutantes (por que só essa banda me vem a mente quando falo da Lucy?), se vire = consiga um disco, uma demo-tape, um mp3 deles. Você não vai se arrepender. =/P>
Lordose pra Leão, uma das bandas que tinha tudo para estourar = não o fez. Pena que, apesar das músicas serem do cacete, já cansaram um =ouco. Se você vai ouvir pela primeira vez, escute Homem-pássaro e a =ersão de Frevo Mulher do Zé Ramalho
Mukeka di Rato – Hardcore já conhecido por todo o =aís, que não conta com tanto reconhecimento local. Muito peso, barulho e ótima =resença de palco. A única ressalva é que é um tipo de som para adolescentes cheios =e hormônios em ebulição. Eu, sinceramente, já passei dessa fase.
O Dead Fish talvez fosse, dessas bandas, a com menos futuro =ela frente. Mas se a sinceridade já fez do Teenage Fanclub o que ele é =oje, porque não daria certo para os caras do Dead Fish? Eles acreditam no =om que fazem e por isso são tidos como uma das melhores bandas nacionais do =stilo punk-hardcore. Lançando o terceiro disco, Afasia, fizeram um show em =asa, com tudo de bom (e de ruim) que isso possa oferecer. Letras cheias de =ensagens, para nenhum fã de Bad Religion botar defeito. Um conselho: =onheçam.
Thor, uma banda de metal dos anos oitenta, se uniu mais de dez anos =epois para um único show, durante o Festival. Um do melhores shows da =oite. Fábio Boi, com passagens por bandas como Atomica e The Skulls, mostrou que =inda está em boa forma. Coisa que só as pessoas que acompanham seu novo =rojeto "Silence Means Death", conhecem. Gosto de saudade para uns, de =ovidade para outros (eu incluído) e a certeza de que música boa não tem =dade. Presenças na platéia de Gastão Moreira e Fábio Massari. (O que eles estavam =azendo aqui???)
Já que falei eles, não custa nada comentar o show mais pesado =a noite. O Silence Means Death, toca um thrash com algumas levadas hardcore que =á obteve críticas positiva em várias publicações especializadas tanto =o Brasil, quanto na Europa. Peso, melodia e tudo pra ser o que o Sepultura foi há =lguns anos atrás. Parece que chegou a vez deles.
As outras apresentações não chamaram atenção suficiente, =á que tiveram que brigar entre si pelo público, espalhado pelos cinco palcos =iferentes. Desse jeito, a tarefa mais difícil ficou para os espectadores. Ter que =scolher entre um ou outro artista, correndo de um lado para outro Uma tarefa =m pouco árdua para quem tinha nada mais do que 52 bandas para assistir.

O colunista está de férias
Antes de começar eu gostaria de pedir para vocês um pouco de =ompreensão. Se tiverem vontade de deixar de ler na metade do texto, continuem, =açam uma forcinha. Prometo que vou tentar fazer o melhor possível.
Começo mais uma vez a escrever para esse espaço concedido pelo =ono do portal e vejo que a empolgação inicial, a vontade de polemizar =oram se tornando um fardo. Começo a perceber o quão difícil é esse =ipo de trabalho. É duro sentar para escrever e não ter assuntos novos, experiências interessantes. Parar para pensar em outras saídas, outros caminhos =ara levá-los até a última linha do texto é um desafio. Poderia =almamente, fugir da responsabilidade e falar da calcinha da enfermeira (proibida) do =unk, do novo corte de cabelo do Ronnie Von ou mesmo do Silvio Santos =esfilando na Sapucaí. E ao invés disso tento colocar no ar questionamentos, =ndignações, pensamentos imperfeitos... Na verdade o meu grande problema é querer =olocar alguma coisa que valha a pena ser lida.
Não sei quantas pessoas gastam seu tempo lendo essas linhas, =sses parágrafos. Mas, mesmo que não sejam muitas, elas merecem a minha consideração. Por isso mando a minha contribuição direitinho, =entro do prazo, por mais chula que ela possa parecer. É estranho pensar que alguém =ue eu não conheça pode estar lendo e até refletindo sobre algo que escrevi. =alvez me mandando mentalmente ao raio que o parta, talvez se identificando com =lguma opinião. Pessoas, as quais nunca verei, me conhecendo por meio de =inhas palavras, desse tempo que passo em frente ao computador.
É difícil pensar que partes da minha vida não pertencem mais =ó a mim. Que minhas opiniões são um livro aberto (ou e-book, seguindo a nova =endência) para quem quer que acesse esse link.
Alguém, por acaso, pode visitar a página e vivenciar minha =emana cheia de problemas. Ou sentir a mesma alegria de ver meu time campeão. Não =reciso de psicólogo nem de divã. Freud não explica. Eu escrevo. Exorcizo =eus medos, divido minhas alegrias e sofrimentos com mais alguém. Vocês, para =er mais preciso.


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Com-puta-dor
Tirei o dia para pensar em todos os benefícios que o computador =rouxe para a sociedade moderna. Informações correndo o mundo em segundos, =omplexos cálculos matemáticos feitos com a dificuldade de um 2+2, =ampeões de xadrez perdendo seus reinados, enfim, milhares de pequenas coisas que mudaram = ainda mudam cada um de nossos dias. Qualquer trabalhador minimamente =specializado precisa ter "conhecimento em informática" digitado em seu =urrículo, feito no computador. E com isso, passamos cada vez mais horas na frente do =icro.
É claro que também existem desvantagens. Tudo na vida (e no =niverso) é um jogo de dá e tira. Um mero pique de energia ou um problema de backup =odem levar horas, dias ou até meses de trabalho para o "céu dos =rquivos". Se bem que esse é o menor dos problemas. O pior ainda está por vir e do =eito que estamos, com certeza, um dia ele chegará. Talvez mais cedo do que =ocê pensa. Ou você acha que o computador tem esse nome à toa? Pensem bem: com =uta dor...
Digitar se tornou um martírio para as secretárias, para os =ornalistas, para os caixas do banco e para mais uma monte de profissões. E não =dianta tentar fugir. Se o trabalho não for feito na frente do computador, =ão há trabalho. Hoje, saudável é ser carregador de sacos de cimento ou =r morar numa fazendinha, com direito a amarelão e barriga d´água. Sinal dos =empos. Ao invés de nos preocuparmos (já na velhice) com o coração, =ulmão ou mesmo com a memória, temos que cuidar é da postura. Urgentemente.
E o com puta dor não trouxe só mudanças na área da saúde. =udou também a nossa língua. Muito mais até do que simplesmente adicionar termos =nócuos como deletar ou escanear. Ele está mudando a língua do dia a dia, =quela que a gente ouve nos balcões de bar, ou nas conversas de banco de praça. =xpressões que eram familiares aos nossos avós, hoje fazem parte do linguajar =heio de gíria da juventude. Tendinite, LER, artrite, fisioterapia viraram =arcas a serem consumidas e ostentadas, cheios de orgulho. É o fim. De =erdade. Meus dedos doem enquanto escrevo isso, não dá para continuar.
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Joey Ramone morreu de desgosto. O Punk virou moda, a revolta passou = ser vendida no shopping e as músicas viraram... bem, vocês viram o que =las se tornaram. A única saída foi, pacificamente, dizer adeus.


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O cheiro
Estamos na era digital. Não poderia ter sido mais óbvio em minha primeira frase. Mas o que defendo hoje, nesse espaço, é a legitimidade da tentativa de milhares de pessoas, em todo o mundo, de viver a parte do mundo feito de códigos binários e impulsos elétricos. Não é porque temos acesso (será que temos?) ao maravilhoso mundo informatizado que temos que nos curvar perante ele, como leais súditos. Chegou a hora de questionar, de comparar, de começar a colocar no papel as vantagens e desvantagens de cada novidade e de seus antepassados do mundo real.
E-book X livro (de papel) - Além desse nome ser feio que dói (e-book? Fala sério), o primeiro não dá pra ler deitado no sofá ou na cama antes de dormir. E os famosos o que vão falar ao responderem “Livro de cabeceira”, em um daqueles perfis do consumidor (algo do tipo: “Pasta de dente? Perfume? Parte do boi predileta? etc”.)? O título do e-book, o site em que está ou as especificações técnicas de seu micro? Mas o que dá a vitória, sem pestanejar ao livro (de papel) é o fato de podermos guardá-los nas estantes e depois mostrar para os amigos como prova de nossa incrivelmente ativa vida intelectual (mesmo que nunca tenhamos lido metade do que está ali. Por falar nisso, por que será que compramos muito mais livros do que podemos ler? Mas esse já é outro assunto, para outra coluna...).
Jornais online X Jornais (de papel) – Vitória apertada para a versão online que, apesar de não deixar tinta nas mãos, não dá para levar para o banheiro (prática que, por motivos de saúde, eu não aconselho). No jornal virtual também dá para seguir pesquisando o assunto da matéria lida, mas o que pesou mesmo foi, em época de otimização de tempo, usar ao mesmo tempo o telefone e ler o jornal do dia. E isso foi uma piada.
MP3 X CDs, DVDs, LPs e afins – Meus amigos passaram a venerar o Napster, o AudioGalaxie e afins. Eu até que gosto desses programas de troca de MP3, mas não posso simplesmente abrir mão da necessidade de sentir o cheiro do plástico envolvendo o CD, de folhear as páginas de um belo encarte(que também cheira muito bem), ver a arte no próprio CD. Putz, isso é bom demais. Mil vezes melhor do que ver aqueles CDs prateados, regravados, sem encarte nem cheiro nenhum. O MP3 abriu o mundo da música para qualquer um sem dinheiro o bastante para comprar todos os lançamentos mas com paciência de sobra para passar horas e horas esperando os MP3 baixarem e pesquisando novas bandas, músicas e cenas musicais. Mas não dá o prazer de adquirir um clássico num sebo ou de ver aquele disco memorável em promoção numa estante empoeirada da lojinha do bairro.
Colunas X Falta de Colunas – Puxando a brasa para o meu lado, vendendo meu peixe e tudo o mais, a internet deu oportunidade para simples desconhecidos, como eu, escrever o que bem entende. Se tenho leitores para isso? Realmente prefiro nem saber (posso ter uma grande decepção). Mas pelo menos faço minha parte.
Bom, no fim ficou tudo como estava desde o princípio. Empatado em dois a dois. Começo a perceber que essa coluna, no fim, não valeu grande coisa já que não chegamos a lugar nenhum, não tiramos nenhuma conclusão. Desculpe se você perdeu seu tempo. Desculpe não, bem feito. É isso que dá me deixar escrever.

E outra...

(estou colocando aqui porque realmente achei que tinha perdido todas elas!)

 O carequinha de Ouro
 
 Fim de Março. Toda a atenção do mundo está voltada para Hollywood.
 Mais precisamente para o Oscar. Pela milésima vez tentaremos entender o que 
 se passa nas "cabeças" da Academia. Tá certo que, quem escolhe os melhores 
 são pessoas como nós (será mesmo?) e não deuses do Olimpo cinematográfico. 
 Mas o que acontece na hora de eleger os indicados? Por que a maioria das 
 pessoas envolvidas nesse processo sofre da "Síndrome da Ausência do 
 Pensamento Racional"?
 
 Filmes elogiados pela crítica e amados pelo público, cheios de atuações 
 arrasadoras e emocionantes não recebem nem convite para participar da maior 
 "festa do cafona" do mundo. E aquele filminho meia-boca, quase como a água (inodora, incolor, insípida), acaba recebendo várias indicações.
 
 Pausa para reflexão - Percebam como, nas prateleiras das locadoras, existem 
 centenas de filmes com chamadas do tipo "3 Indicações para o Oscar, 
 incluindo Melhor Som, Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte". E antes que alguém venha me bater, eu reconheço a importância desses itens. Só que ser indicado nessas categorias não é um aval de qualidade para o filme.  Ele pode até ser muito bonito, com um ótimo som(???), e ainda assim ser raso como uma poça de chuva.
 
 Mas é assim mesmo e pronto. Acabou-se. Se quisermos ver filmes sendo 
 premiados, e não estratégias de marketing, temos que mudar de festival. 
 Cannes, Sundance, Veneza e Berlim ainda não se dobraram por inteiro ao mercado e têm um quê de novidade e ousadia em suas indicações e premiações.
 
 E já que não podemos escolher quem vai ganhar (já pensou se o resultado 
 saísse de uma votação na internet?), temos é que engolir aqueles musicais 
 chatos e perder uma noite de sono restaurador para saber quem teve a melhor 
 campanha promocional. Quer dizer, quem foi o melhor filme. Só nos resta 
 torcer. Torcer para, na segunda-feira, a ressaca do Oscar não nos deixar com gosto de cabo de guarda-chuva na boca.
De 07/03/2001
 - faz mais de 16 anos que escrevi isso. Era pré-blogger (e olhe que meu blog é velho). Consegui salvar aqui, depois de encontrar perdido no meu hotmail (outra ferramenta ancestral que, um dia, já foi a pedra fundamental da internet), na pasta colunas (essa eu escrevi para o site www.ssvirtual.com.br

" Eu acho que vi um gatinho.
 
 Quem aqui nunca ouviu falar do Napster?
 E quem, em sã consciência, estaria lendo um site sobre música se não o 
 conhecesse?
 Napster é aquele programinha legal, leve e que, de uma tacada só, acabou com 
 as milhares de milhas e impostos alfandegários que separavam o Brasil do 
 resto do mundo musical. Lados B de singles nunca lançados no país, versões 
 ao vivo, acústicas e remixes dos grandes nomes do pop passaram a fazer parte 
 do cotidiano de nossos HDs. Acabou a "necessidade" de se gastar reais e 
 reais (e, nos dias de hoje, cada vez mais reais) com discos difíceis de se 
 encontrar nas lojas. Ou pior ainda, encomendar discos importados aos olhos 
 da cara, só porque eles ainda não foram lançados no Brasil. Com o software 
 do gatinho, deixamos de gastar nosso suado dinheirinho com CDs. E passamos a pagar a conta de telefone.
 
 No entanto, o Napster abriu portas muito mais importantes. Fez a cultura 
 marginal fervilhar e deixou o mundo do tamanho do seu monitor. Com uma leve 
 fuçada em sites especializados ou em e-zines (verdadeiros garimpos 
 virtuais), encontramos bandas e  selos independentes dos quais nunca ouvimos 
 uma palavra, seja em rodinhas de bar ou na imprensa especializada. E que 
 valem muito a pena dar uma conferida. Música feita por pessoas normais e 
 não por Kens e Barbies que habitam o mercado. Feitas para puro prazer de 
 seus criadores, e não para a exploração comercial da libido dos/das adolescentes do mundo. Selos como Sub Pop, conhecido graças ao sucesso de seu mais famoso rebento, Nirvana, podem ter finalmente seus catálogos esmiuçados. O que falar então de outros menos famosos como Touch and Go, 
 Merge ou Chemikal Underground? Só escuta o Bonde do Tigrão quem quer.
 
 Com a internet, com o Napster e com a chegada da banda Larga, será cada vez 
 mais pessoal a escolha de estacionar no limbo cultural. Rádios e jabás 
 existirão por muito e muito tempo, mas felizmente o antídoto à isso já está 
 por aí. Viajando por entre cabos, fibras óticas e fios de cobre. Chegou a 
 hora da revolução. E, fácil como lançar uma bomba sobre  o mundo, tudo o que 
 temos a fazer é apertar um botão."

segunda-feira, outubro 02, 2017

Doomed

Quando você tem a sensação de que tudo dará errado.
De que não adianta fazer nenhum esforço, pois nada nunca será recompensado à altura.
Quando você se sente uma enganação prestes a ser desmascarada a qualquer momento, e vive na ponta dos pés, esperando acordar o monstro a qualquer momento.

Quando nada vale a pena, quando a vida é só uma sucessão de dias sem sentido, quando você está cansado disso tudo. Viver é desperdiçar dias, que não trazem nada de novo ou de excitante.
Tudo é cinza.

I am doomed. And there´s nothing I can do.

domingo, setembro 24, 2017

Os caminhos que tenho percorrido são intensos e tortuosos. Vezes e vezes me vejo sem solução e a única saída é pedir ajuda a quem posso. Cada vez menos pessoas podem. A vida toma um valor e passa a se tornar tão cara e absurda que milhares não têm o menor valor.

Mas não era sobre isso que eu queria escrever.
Tenho andado bastante por aí. Desde um dia no CV da UFES quando disse para a Carol que queria morar em outros lugares, sinto que dei o primeiro empurrão em uma roleta que nunca mais parou de girar. No Brasil, morei em 3 estados e estive em tantos outros, vivendo aventuras inimagináveis. Fora, já passei por alguns tantos países. Morei em 3 e 1/2 (não morava em Gibraltar, mas vivia lá). Em todas essas caminhadas, fui deixando um pedaço meu. Uma parte do meu coração e dos meus afetos ficando sempre quilômetros atrás, para nunca mais me alcançar.

Chego a um momento em que já não sei se sinto algo pelo presente, pois estou cada dia mais preso ao passado. Os momentos que deixei parecem bem mais apetitosos dos que sorvo agora. O coração foi dividido em tantos pedaços que parece não ter sobrado mais nada comigo.

Sei que sinto falta de pessoas. Sinto falta da minha língua - amo minha língua. Sinto falta do espanhol, também. Amo a Espanha. Já não sei porque trabalho, o que busco, o que almejo.
Vou-me. Deixo mais um dia para trás e nele um pedacinho meu. Até não ser mais.

terça-feira, agosto 29, 2017

work in progress

Depois de ter enfiado na cabeça que queria porque queria ter um programa de rádio, mudei de curso superior. Fui da Biologia para a Comunicação Social. Na realidade, o que me fez mudar mesmo de opção foram os professores que tive nas matérias de botânica. Durante as aulas de taxonomia de planta avasculares questionava muito o professora. Tinha ideias mirabolantes e queria estudar e fazer experiências com plantas, mas era sempre derrotado pela sabedoria limitadora dos livros. Lembro bem de uma frase da professora: “Se não está nos livros não pode ser feito”. Bom, isso me traz à memória também o primeiro dia de aula na faculdade. Eu, com 17 anos, achando que tava abafando com minha camisa escrito UFES (HAHAHAHAHA, pobres adolescentes!). Todos sentados em círculo. A professora pergunta: o que desejam fazer daqui para frente? A maioria absoluta diz: biologia marinha (tava em alta na época). Alguns tantos, queriam dar aula. Outros acabaram indo para a botânica. Eu disse que queria fazer Engenharia Genética. A professora me olhou, meio incrédula e mandou NA LATA: “Acho que você está no curso errado.” Depois explicou que não tinha cadeira de genética ali e que o curso era basicamente de Licenciatura e não Bacharelado – como se eu soubesse o que era isso...


Ou seja, deu ruim desde o primeiro dia. Passei um ano e meio na Biologia. Primeiro semestre foi assim, aos trancos e barrancos. Aprovado em algumas matérias e sem muito saco para estudar aqueles calhamaços de teoria. Porra, não era medicina e tinha que estudar mais que médico. Se fuder, larguei mão mesmo. Ia pra faculdade para beber depois das aulas, para fazer churrasco no CA de tarde e fumar. Hahahaha
Num desses churrascos, bebi tanto e fumei tanto que passei a noite vomitando. O gosto do cigarro na língua, na garganta, na boca era o que mais me enjoava. Vomitava e vomitava e quando já não tinha mais nada para por para fora ainda me sentia enjoado com o gosto da fumaça na boca. Ia para o banheiro e tentava vomitar o cheiro. Mas ele não saia de jeito algum. Acho que neste dia dormi no chão do banheiro de empregada – ia vomitar lá porque ninguém usava este banheiro e era o mais longe possível do quarto da minha mãe.
Moral da história: nunca mais fumei cigarro. Blergh!

No primeiro semestre da Biologia, ainda tive aula de redação. Não me pergunte porquê. Era meio que o básico do curso (português, matemática, introdução à biologia...). Escrever sempre foi um prazer e nessa aula aproveitava para dar voz a

quarta-feira, julho 19, 2017

Algumas escolhas e fatos da vida:

Não vendi nenhum LP quando o vinil era dado como morto e todos trocavam suas coleções por Compact discs. Por conta disso, acabei comprando muito vinil barato, numas daquelas promoções de baciadas que as lojas faziam para abrir espaço para os novíssimos cds que ocupavam muito menos espaço e eram mais caros.

Amigos meus compravam CDs antes mesmo de ter o aparelho que o tocaria porque, não é, em algum momento a tecnologia estaria acessível e, aí sim, poderiam ouvir seus disquinhos. O mesmo fizeram com DVDs e Blu-Rays. Eles estavam certos, a tecnologia barateou. E eu nunca comprei um dvd, blu-ray ou cd antes de ter o tocador em casa.

Por falar nisso, meu primeiro DVD player foi ganho num sorteio em uma festa do Dia do Mídia, oferecido pela Rede Gazeta. Nessa época tinha uma pequena agência que de tão pequena não suportou a retração do mercado com a possível eleição do Lula em 2002. Ali aprendi o que era crise. E nunca mais tive um negócio.

Voltando ao LP, comprei um disco do Smiths e demorei a entender como aquilo funcionava. Não o LP, mas o Smiths. Era muito diferente do que eu ouvia até então: basicamente rock, guitarras e barulho. Quando as guitarras de Johnny Marr bateram, foi uma viagem sem volta. E me dei uma missão: comprar APENAS em vinil, toda a discografia da banda. Demorou anos e era bem difícil achar o The Queen is Dead nos sebos da vida. Mas o vinil voltou com tudo e fez com que os proprietários os trocassem por novos e menos empoeiradas edições. Comprei o meu em um sebo, algum tempo depois.

Por acaso, comprei um monte de discos do The Cure em vinil, nesta época dos descartes LP vs. CD. 

segunda-feira, junho 19, 2017

Cheiro de velho

Hoje senti um cheiro forte no trabalho. Um cheiro de… velho.

É triste falar isso, mas já perceberam como gente mais velha cheira? Não é fedor, mas é um cheiro forte, pesado, de vida carregada nos ombros. Sinto este cheiro no que a memória me deixa lembrar do meu bisavo. Ele não enxergava bem, tampouco ouvia muito. Vivia em sua poltrona, batendo palmas, como que para sentir-se vivo, ouvir algo reverberando por seus ossos, até seu ouvido interno. Um som que vinha de dentro. Lembro de ter lido em algum lugar que no vácuo o som não se propaga, mas que mesmo assim ouviríamos dois tipos de som. Um grave, o bater do coração, e um agudo, das suas sinapses nervosas. Se é verdade, não tenho como comprovar. Pelo menos até ficar surdo e ouvir somente os sons internos. Meus sons, puros e simples.

Voltemos ao cheiro. Meu avo agora já tem o cheiro em volta dele. Forte, ferruginoso, ocre. Seriam as roupas? A pele envelhecendo? Não há resposta, assim como não há exclusividade. Alguns idosos cheiram da mesma forma, como se nosso cheiro único, envelhecesse também e tirasse férias eternas, deixando-nos com a falta de cheiro que cheira como os velhos.


Justiça seja feita, eles se banham. Passam água de colonia depois de fazer a barba. Escovam o dente ou limpam bem a dentadura. Eles se cuidam, claro. Mas se, com a idade, perdemos tudo, o cheiro vem para ficar. Para sempre. É lembrança para os netos e até vira ideia para um texto. 

E o cheiro viaja, vem parar aqui do meu lado, com todas suas lembranças, muitas delas revestidas de saudades e arrependimentos. Será que… (me cheiro, para ter certeza de que não é meu). Ainda não. Mas logo será, tenho certeza. E serei eu o velho com o cheiro forte, de velho. Como todos da minha família que vieram antes de mim e em mais ninguém, depois que me for. 

Antes aqui

Queimada

O triste incêndio florestal que aconteceu, não faz muito tempo, em Portugal deixou um rastro de mortes. Dentre elas, as de passageiros e motoristas, pegos desprevenidos em seus carros, criaram um sentimento de impotência tamanha que o resultado foi uma comoção geral. O fato foi capa e notícia principal dos maiores jornais e portais do mundo. Mas foi um texto, em especial, que me chamou a atenção.

Do sítio Expresso.pt, ele veio, escrito pelo jornalista Ricardo Marques. Como tudo em nossa pátria-mãe, carregando nos tons de sofrimento. Mas, também, carregado de beleza. Sim, um texto sobre a tragédia, sobre a – agora conhecida como – estrada da morte, sobre as 62 vítimas (e contando). E, sobretudo, sobre a nossa capacidade de transformar, usando apenas as palavras, um fato aterrorador em poesia. Não há beleza nas mortes, mas há beleza e respeito profundo no texto e em como ele trata o acontecido. É, acima de tudo, uma obra de arte utilizando o jornalismo como base de lançamento.

Não há relato das mortes, não há o realismo chocante, esfregado em sua cara, como acabamos nos acostumando. Não há só o fato. Há, acima de tudo, a experiência humana. E o português.

O português, esta língua que nos foi imposta, foi transformado de tal maneira no Brasil que criamos nossa própria língua. O português brasileiro. Cortamos relações com a matriz, inventamos palavras e enfiamos gírias até onde não era possível. Criamos nossa identidade. Mas a língua original, quando quer, sabe ser arrebatadora. Como nos versos sofridos de um fado.

Usada com maestria, esta gramática e suas palavras, algumas já esquecidas por aqui, são de fazer chorar. É o retorno à origem, o filho que envelhece e passa a entender o papel de seu pai, que já não quer se rebelar, mas aproveitar os momentos restantes juntos.

É como se a queimada tivesse derrubado pontes e destruído estradas e, ainda assim, de certa forma, servido para nos aproximar, um pouquinho que seja, de nossa língua em comum.



“Dizem que é uma estrada, mas não passa de uma ausência. Como se vida tivesse sido sugada de repente e o caminho entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera não passasse agora de uma coisa que já foi. Dezena e meia de quilómetros reduzidos a nada. Há ramos caídos, fios de eletricidade tombados e, na berma, um homem que pede lume. “Já viu a ironia disto”, pergunta, enquanto acende uma cigarrilha. Depois segue o seu caminho, em direção a um dos epicentros do pior incêndio florestal que atingiu Portugal.

Caminha devagar, pelo meio da estrada, fumando a cigarrilha. “Está a ver esta marca negra no chão? É de um carro. Havia dezenas deles aqui”, diz. “Nunca mais nos vamos esquecer deste dia, sabe? Houve um homem que conseguiu sair do carro e fugir a correr pelo meio das chamas. Salvou-se, mas foi o único”. A história dos outros, dos que não conseguiram escapar, está nos destroços. Neste troço da EN236-1, bem perto de uma terra chamada Barraca da Boavista - onde há uma rua chamada Alegria e, nessa rua, está um carro todo queimado.

O homem fuma e caminha. Veio da Venezuela há uns anos, conta, como se fosse obrigado a dizer alguma coisa. O silêncio faz muito barulho quando não existe mais nada à volta. São vinte passos até aos carros queimados no meio da estrada. “Não tiveram hipótese”, diz. Nesta estrada morreram 47 pessoas, encurraladas pelas chamas. A terra cheira a queimado, o fumo esconde o céu e o sol, mas o homem caminha. Passa um reboque que, lentamente, começa a carregar o que resta de um carro. Há mais dois ali mesmo, outros três na estrada de baixo, mais de uma dezena, entre veículos ligeiros e camiões, até Castanheira. Não é muito diferente no caminho até Figueiró.

A viagem é feita devagar - há demasiados obstáculos na estrada. Na rádio, o primeiro-ministro admite que o número pode subir nas próximas horas. Não é difícil perceber porquê. Ao longo da estrada sucedem-se os desvios para aldeias e lugares, mas na verdade são caminhos que levam a mais destruição. Pelo meio dessas estradas secundárias existem caminhos de terra, ainda mais secundários. E por toda a serra há casas isoladas. “Este número vai subir muito”, arrisca o homem da cigarrilha, que segue a pé em direção a Castanheira. “Isto foi um horror.”

Fica para trás e, alguns quilómetros adiante, numa curva, um carro dos bombeiros está avariado, com um pneu destruido, junto a um carro incendiado. O céu fica mais negro, vê-se fumo ao longe. Uma coluna de bombeiros passa devagar e os nomes escritos a branco no lado das viaturas dão outra dimensão à tragedia: Paço de Arcos, Barcarena, Algés, Santo Tirso… Passam e acenam a quem está à beira da estrada. A tristeza a saudar o desespero. Vem depois um enorme camião do exército, que transporta uma retroescavadora - e este é o sinal do amanhã. Os trabalhos de limpeza e desobstrução da via já estão em curso e, à medida que as autoridades vão entrando pelos caminhos, ninguém acredita que tragam boas notícias.





Em Castanheira, numa rotunda no fim do caminho mais triste de Portugal, há um moinho de água que nunca para de girar.”

domingo, maio 14, 2017

O espaço começou como uma brincadeira.
Agora é o quadro negro de um camarada de 41 anos. Um senhor das palavras.

Querido diário...

Estou apavorado com a mudança. Preciso fazer tantas coisas, resolver outras tantas e arrumar dinheiro para mil outras que não me sinto mais seguro com minhas escolhas.
Está difícil dar adeus à vidinha que tenho. Estruturada em sua desestrutura. Bebi para aliviar. Fiquei de fogo e ontem, apesar de não ter tido ressaca, fiquei muito deprê.
Não é deprezinho. É MUITO depressivo.
Não consigo ver saída e a única solução pareceu fugir de tudo, de uma vez por todas.
Só que tenho medo da morte. Mais medo da morte do que de encarar as impossibilidades ds vida.

Preciso vender o carro. Uma futreca que nem devia ter comprado. Ninguém quer. Nenhuma oferta, além de 800 perus. Engraçado Pavo (perú em espanhol) é sinônimo de dinheiro. Gíria, street lingo, jerga.

Preciso PRECISO de 1500 perus, para conseguir fazer tudo da mudança. Infelizmente, 800 me deixa 700 aquém do que preciso.
E vou ter que me virar com isso.
Tenho 5 dias para vendê-lo.

Tenho que pagar a empresa de mudança. Não tenho confiança nela
Nem condições de pagar outra. Espero que ele apareça no dia marcado.

Preciso comprar remédios para levar. Pagar o aluguel atrasado. Pagar contas, dinheiro, viver...
É muito, muito difícil viver em 2017. E ainda pensam que tudo são flores, apenas flores, na maravilhosa Europa.

Eu quero minha mãe!
Feliz dia das mães para ela.