sexta-feira, novembro 30, 2012

Então o ano acabou?

já era 2012?

Bom, este ano foi-se esvaindo aos poucos. E de maneira constante.
Foi um dos que quase não dá para contar os bons momentos.
Foi, mesmo, um bom ano.
Nem ligaria se tudo se acabasse mesmo daqui a 21 dias.

Ficaria triste pelos filmes que não veria, pelos livros que não teria condições de ler e pelas paisagens que não poderia desfrutar.

De resto, todo o resto, pareço estar satisfeito.
Não há mesmo muito do que reclamar.
Tenho tido tanta ideia para escrever e tanta preguiça de me sentar e digitar as letrinhas que acabo deixando tudo pra lá.

tipo isso aqui...
Antes Aqui

Mais um ano se encerra e 2012 já abre passagem para 2013. Rápido como a luz, trocamos páginas de agendas, calendários e folhinhas. E como fazemos há quase 10 anos, não poderíamos deixar de fazer uma rápida retrospectiva do que apareceu de melhor nesses últimos 12 meses.
Pausa para reconhecer um ano especial em matéria de música. Muitos discos bons apareceram e, faz tempo, não ouvia tanta música nacional feita com qualidade. Bem, é melhor deixar de papo e começar a quebrar a cabeça para separar o que de real marcou 2012.


Jack White – Blunderism
O primeiro grande álbum do ano. Mais uma presença de Mr. Jack White (ex-White Stripes) na lista de melhores. Íntegro e coeso, um belo começo de carreira solo.

Hot Chip – In Our Heads
Demorei até finalmente ouvir o novo do Hot Chip. E desde então não me canso de ouvi-lo uma vez mais, sempre que possível. Ponto altíssimo da carreira dos ingleses.

Hot Water Music – Exister
Um disco que deve ter feito todas as outras bandas de rock tremerem na base. Depois desse lançamento, com peso, melodia e refrões impecáveis alinhados do início ao fim, a altura do sarrafo de 2012 foi mandada para o alto.

Curumin – Arrocha
Outro nacional que cavou seu espaço nesta lista. Um disquinho gostoso que só, com levadas eletrônicas mudernosas, mas bem feitas, e em extrema harmonia com o que o artista se propõe.

Los Sebosos Postizos - Los Sebosos Postizos interpretam Jorge Ben Jor
A Nação Zumbi tem tanto talento que, mesmo sem alguns integrantes, fez um projeto entrar nos melhores álbuns de 2012. Dengue, Lucio Maia, Du Peixe e Pupilo tocam as músicas de Jorge Ben (Jor) com ainda mais suingue (como se isso fosse necessário).


Alt-J - An Awesome Wave
O grande vencedor do Prêmio Mercury deste ano foi, talvez, a melhor surpresa de 2012. Som macio, malandro e muito, muito bom.

Two Door Cinema Club – Beacon
O segundo disco do TDCC é complicado, difícil e estranho. Ou nada disso. Entre a crítica, ouve divergências, mas aqui, este foi um dos melhores do ano, com canções lindas como Handshake e Beacon.

Tame Impala – Lonerism
O ano parece ser mesmo das afirmações. O Tame Impala, depois de dominar o mundo com Innerspeaker, volta com o equilibrado Lonerism. Um pouco mais de psicodelia com ecos de Beatles. Nada mal.

DIIV – Oshin
A felicidade de ouvir este disco deve ser parecida com ouvir um dos clássicos do New Order, assim que foram lançados. Baixo marcado, levadas oitentistas e muitas músicas boas.


E 2012 parece ter sido também o ano das mulheres. Algumas delas lançaram belíssimos trabalhos e não custa anda ressaltar seus nomes por aqui. Então anote aí: Cat Power, Norah Jones, Fionna Apple, Grimes, Céu e Feist. Você não levará um fora dessas vozes, fique tranquilo.

domingo, novembro 18, 2012

quarta-feira, novembro 07, 2012

Comprei o livro Herzog, escrito pelo Prêmio Nobel Saul Bellow, por conta da crítica que li na VIP. Dei, como poucas vezes o fiz, crédito a um crítico. Ainda mais sendo de literatura, coisa que aprecio de uma forma muito particular. Mais do que comprar livros, gosto de lê-los. Só vejo-os em minha estante depois de devidamente usados.
Mas enfim, comprei e me joguei de cabeça na mente de Moses Herzog. Um professor brilhante perdido entre suas memórias e suas mulheres. Confuso com o fim de seu casamento, Herzog nos leva de forma esplendorosa por sua história repleta de erros e passos em falso e começamos a temer pelo seu futuro. Pela sua perspectiva de futuro, qualquer que ele seja. Entre lembranças, Herzog escreve cartas. Cartas para seus amigos de tempos, para suas ex-mulheres, para seu psicólogo e para o presidente dos Estados Unidos. Como e onde elas serão postadas, não precisamos saber. Nem ele sabe, escreve como um meio de eliminar as impurezas da alma. Como alguns de nós.

Um adendo - O livro praticamente exige uma leitura ininterrupta, parar deixa no ar a linha de pensamento, o fio da meada, de mesma forma que você se sente quando o interrompem em meio a um pensamento e ele voa para longe. Infelizmente ter o tempo necessário para saborear essa obra-prima é algo impossível em tempos de celulares, internet e hiperinformação. Quer tentar? Boa sorte.




Aqui antes:

É um mistério. Alguns juram de pés juntos que é falso. Um truque. Outros que é uma aparição. Astrólogos diriam se tratar da conjunção de planetas e constelações em condições perfeitas de temperatura e pressão. Eu digo que é real.

Não só digo como posso provar que já vi. Presenciei com esses olhos que um dia a terra há de comer. Foram duas ou três vezes. Não mais que isso. A última aconteceu faz poucos meses, no centro da cidade. Ela passou quase ao meu lado e, de repente, tudo ao redor se tornou uma espécie de espera. Ela não caminhava. O que fazia era mais próximo de um levitar. Como se estivesse pisando em nuvens.

Ok, isso não é verdade. Era bem real e pisava, sim, no chão. Mas alguma coisa faz com que certas mulheres tenham um tipo de caminhar diferente. Como se o chão não existisse, ou fosse feito de ar. Passos leves e diretos, perfeita harmonia entre pés, pernas, músculos. Algumas, pouquíssimas, têm a qualidade excepcional de caminhar perfeitamente, olhos para cima, nariz arrebitado, como se estivesse em uma passarela de asfalto, pedras portuguesas, buracos e chicletes mascados. Como se a vida fosse ser levada sempre com a mesma pose. Diria, até, com certo ar monárquico.

Percebam que não falo de um tipo específico de corpo, de tamanho de pé ou de altura. O que mais importa é a imponência, um vagar que vem da alma.

Próximo a elas - essas fadas que caminham entre nós, pobres mortais de pés tortos, joelhos bichados e sapatos apertando joanetes - todos se sentem hipnotizados. É como se o tempo parasse. E lá vem ela. Pedestres abrem espaço, prendem a respiração, alguns homens menos fortes desfalecem pelas calçadas, atingidos por tamanho esplendor. É como estar frente a frente com um momento sublime. Da Vinci ao pintar Gioconda, Van Gogh ao cortar sua orelha, a primeira vez que as notas da nona sinfonia foram tocadas. É a sensação da presença de uma obra de Deus, à perfeição. Mesmo que só dure alguns passos.

Poucos são os felizardos que podem assistir a uma mulher que levita dessa forma. Uma maneira tão simples, um pé após o outro, que as mulheres têm de reforçar, de forma tão completa, seu domínio sobre os homens. Estaremos sempre aos seus pés.