segunda-feira, julho 25, 2011

Hoje é o dia do escritor.
Um minuto de silêncio por eles.

Eu já nem me arrebento.
Escrevo para quem me paga, antes.
Nunca depois.

sexta-feira, julho 22, 2011

Ontem fiz uma ressonância magnética.
para quem não sabe, é um exame nada demais, mas que dizem para você assim, no início:
"O exame dura uns 20, 30 minutos. Não se mexa neste tempo."

Meus queridos, já tentaram não se mexer por vontade própria por tanto tempo?
Depois de uns 10 minutos, parece que seu corpo todo precisa dar um salto. Tudo começa a comichar, a parecer estranho e incontrolável. E, como se isso não fosse suficiente, ainda colocam um protetor auricular gigante em sua cabeça. E os sons que a máquina faz parecem o de uma instalação de arte moderna.
Sim, foi assim que me senti, lá, de olhos fechados, com um fone enorme a tapar-me as orelhas, deitado com as pernas dobradas. Numa instalação de arte, uma coisa meio máquina, meio humano, branco e com som.

Faria o maior sucesso na Bienal. Mas só até o pessoal da Sociedade Protetora dos Animais aparecer.

terça-feira, julho 19, 2011

E assim, como quem desdenha da droga que usa, me viciei em ser curtido.
Há mais de 10 anos, quando comecei esse blog, a curtição era escrever para ser lido, discutido, idolatrado. Tentei fazer deste uma forma de divulgar bandas. Tentei falar amenidades, escrever poesias que nada queriam dizer. Tentei e tentei.

Nunca fui dos mais visitados, descobri depois que coloquei o contador de visitas ali embaixo. Acho que nunca passou dos 200 e, depois disso, desisti de olhá-lo de vez em quando. Tudo deixou de ter a importância que tinha quando vi que blogs de desenhos (me recuso a chamá-las de ilustrações) ultrapassavam os milhares de views, transformando que não tinha nada para falar (vá lá, escrever) em cel(web)ridades. Caguei. Caguei de montão.

Os comentários, no entanto, ainda se fizeram presentes, mesmo que esporadicamente.
Eram, talvez, uma forma de curtição. Pessoal, pelo menos. Curtia ver que pessoas perderam uns minutos para ler o que dizia, mesmo que tão juvenilmente, mesmo que fosse bobo ou ingênuo.

Dez anos depois, óbvio que desisti de ser descoberto. A bolha estourou e o que sobrou foram averb*** da vida em páginas impressas. (a parte em que suprimo nomes é para evitar que uma googlada inofensiva venha cair aqui).

E continuei visitando esse blog de tempos em tempos, relegando-o ao relento por meses a fio e voltando a aquecê-lo por anos ininterruptos de teclas furiosas e faltas de revisão. E assim ele cresceu, deu lugar ao Orkut, ao Gmail, ao MSN e, faz um tempinho, ao FaceBook.

Agora, busco o prazer momentâneo, os 15 segundos de fama, em um desenho (me recuso a chamar aquilo de ilustração) de um polegar para cima. O sinal máximo de aceitação. Um botão que não exige mais do que alguns músculos dos dedos para ser tocado. E que, em milésimos de segundos, afirma que o que foi postado foi VOCÊ que ouviu primeiro, pensou primeiro, escreveu primeiro.
Mesmo que tudo se perca em uma hora, engolido por outros milhares de toques de curtir, ou por milhares de avatares sendo trocados, ou ainda por milhares de amizades que começam, entre aquele seu conhecido e uma pessoa que você nunca viu mais magra. Engolido pela voracidade de informar, dividir, se afirmar. E esquecer.

Pelo menos o botão está lá, e não aqui. Sei que, com uma busca rápida pelo meus arquivos, conseguirei relembrar o que estava pensando, o que estava passando, o que estava sentindo em cada momento que abri essa página e danei a escrever. Sem que alguém tenha precisado curtir. Mesmo porque, vou ser sincero, duvido que alguém consiga curtir mais isso aqui do que eu mesmo.

Absent soul, o meu enorme botão de curtir.


Não pude deixar de perceber, não pude deixar de escrever. A vida dele já não é lá essas coisas. Não sei onde mora, sabia. Era uma casa não lá muito cheio de móveis, mas com cama, mesas, sua mãe e irmã, talvez.
Não faço ideia quando deixou o real para trás. Parece agora viver em um mundo só dele. Amigo, nem sei se chamarei-o assim, dividiu a cama comigo. Dividiu o gozo, ou disse ter dividido. Tomou do bom e do melhor e provou alguma coisa amarga também.
Tocava atabaque e dançava, como só os artistas podem fazê-lo, entre atores e mendigos, entre caveirinhas e magrelos.

Uma vez, saímos por aí, uma paca, uns peixes, bobó de camarão, sons, cervejas e cachaças. Era uma época boa, lembro-me. Parou em frente à casa de seu pai, nos convidou para entrar. Ouvimos um disco das antigas. Roberto? Tim? A vitrolinha se montava com as caixas de som escondidas embaixo das engrenagens.

Era tudo mais fácil nessa época, os risos, o estranhamento, as ideias e as esperanças. Em algum ponto, não existia mais: eu. Ele sempre vagueou, sempre fez-se existir. Era o cara, alguns até mesmo o queriam por perto. Tinham prazer, tinham desejo, tinham vontades. A magrela sumiu. A madeixa sumiu. A mais bela, sumiu.

Para onde foram, ninguém sabe. Talvez nunca saberão. Talvez nem ele saiba. Ele que parece cada vez mais longe, cada vez dentro dele e só.

O julgamento vem rápido e rápido se vai, como uma baforada de fumaça. Como a última gota de uma lata de cerveja. Talvez já seja hora de deitar e deixar-se ir. Pelo menos seria uma boa lembrança, ainda que esquisita e incômoda, de uns tempos para cá. Mas com o passar dos ponteiros, características se amenam, se desfazem, aos poucos vão abrindo espaço, tornando-se translúcidas. Até o ponto em que só resta o rosto, de um momento qualquer. Ou um sorriso ou uma jogada de corpo, um drible, um chute.

E no fim, nem a lembrança. Ela acaba se esvaindo como nossa própria memória. Como nós vamos aos poucos, comida de vermes, energia palpitante de um mundo novo. Quem sabe ele já não está lá, coroado em vez de bobo?
Quem sabe o que há para lá? Afinal, quem sabe o que há?

segunda-feira, julho 18, 2011

É o tipo da coisa que faz pensar.
Dia tranquilo, vídeos e sites abertos e abrindo.
Primeiro, vejo o Clayton Conservani correndo 42km num frio de rachar e destruindo um dedinho do pé na proeza. Sério, depois da maratona na Antártica, o dedo do lado do dedão estava roxo que só. Um pequeno hematoma. ou hema... TOMA!!!
Ele procurou isso, né?
Desafiou as leis da sobrevivência e saiu (nem tão) ileso.

Pausa para o café (que não há)

Volto e me deparo com um piquenique em família. Todos felizes, brincando próximos a um rio. Rio? chamar aquela linguinha de água que corre de rio é até elogio. Um corguinho (diminutivo de córrego em Mato Grosso), se tanto.
Mas eis que a natureza, ah sempre ela, sábia e traiçoeira, manda em questões de segundos uma volume tal de água que transforma o regato em corredeira. No meio do rio, onde antes tinham pedras que guiavam o caminho, cinco pessoas. Uma criança, um cara meio careca, uma mulher, um jovem adulto...
A criança não consegue manter o equilíbrio e é levada pela água. Como todos estavam próximos e de mãos dadas, lá se vão os cinco rio abaixo. E, vejam só, alguns metros, pouquíssimos metros adiante, uma queda d´água. Ainda não encontraram dois dos corpos, mas três já foram resgatados. Sem vida, obviamente.

O que quero mostrar aqui? Sei lá. Que vale mais a pena correr o risco em uma maratona na Antártica, e levar essa experiência para o resto da vida, do que fazer um piquenique bobo perto de um rio.

O pior é que o piquenique perto de um rio (e de uma queda d´água) eu já fiz.
Falta agora a maratona...

quarta-feira, julho 13, 2011

Antes Aqui

Parem as máquinas. Pela primeira vez em todos os anos de vida da nossa querida Hype, é preciso escrever a resenha de um álbum que não existe. Bom, pelo menos não do jeito ao qual estamos acostumados. Deixe-me explicar: o Kaiser Chiefs, banda animada da Inglaterra, acaba de lançar 20 músicas em seu site. Tudo o que você precisa fazer é escutar alguns segundos liberados de cada música, escolher suas 10 faixas favoritas, na ordem que quiser, e fazer a arte da capa, dentro das opções de cor de fundo e ilustrações que são oferecidas. Pronto, você é quem faz o próximo disco do Kaiser Chiefs, The Future is Medieval.

É a inversão dos preceitos da indústria cultural, ainda que dentro dela. Você não tem mais a replicação ad eternum de um mesmo produto, mas sim a criação de milhares de propostas diferentes, surgidas de uma mesma matriz. Se o papo é interessante para teóricos da comunicação, para nós, meros mortais, o que valem são as notas e acordes, as letras e as canções. E, ainda bem, elas ainda estão por lá.

A máquina de hits que conhecemos no impecável primeiro disco, Employment, deu uma enferrujada. As canções estão mais duras, trazendo na bagagem uma tonelada de influências, tão distintas como Beach Boys e Stone Temple Pilots. Os destaques entre as 20 não ficam com mais de meia dúzia, entre elas Saying Something, Out of Focus, Man on Mars, My Place is Here e do single Little Shocks.

Mas na hora de propor uma nota para o álbum, ficamos perdidos, entre músicas soltas, como se a não necessidade de juntar as melhores em um disco físico tivesse deixado a banda solta demais, livre demais. Não é possível encontrar uma liga que una o trabalho em torno de um conceito, de uma ideia. Tudo se torna um emaranhado de tentativas jogadas na rede. Nessas horas, um pouco menos de liberdade e um pouco mais de direção não fariam mal.

Claro que depois de soltar a ideia na internet e nas principais manchetes de cadernos de cultura, a banda acabou por escolher suas próprias 10 faixas e capa. O disco físico, aquele que ainda vende, logo estará nas melhores casas do ramo).

Eu também fiz o meu, como você pode ver na imagem aí debaixo...

quarta-feira, julho 06, 2011

talvez por isso vivamos tanto para fora.
Se esquecer de olhar para dentro é algo natural.
Quando foi a última vez que você pensou em um ser formado por ossos, músculos e sangue, com uma fina pele que segura tudo isso no lugar?
o blog do sem sentido volta ao normal.

sinto falta de escrever, mesmo quando passo os dias a escrever.
a falta é da liberdade, de sentar depois de um almoço com o café na mão pensando em nada mais do que palavras que valham a pena serem redigidas, unidas e rebocadas em frases que nem fazem tanto efeito.

de qualquer forma...

Bom, estive a pensar. Grande problema pensar. grande problema.
Já se olhou hoje nos olhos?
Eu não.
Como posso não viver para os olhos dos outros se são eles que me vêem?
Não existe a possibilidade de simplesmente me negar a preocupação do que eles estão pensando sobre mim. Entenda, quem é você da boca pra fora? dos olhos pra fora? do epitélio adiante?

Eu não me sei existindo sem o outro. E, talvez, seja para eles que eu exista. Desde sempre, afinal, não passei de um desejo de dois outros seres de terem alguém para jurar o amor que um dia tiveram. Pare de pensar ou pare para pensar.
E tente não enlouquecer com isso.

sexta-feira, julho 01, 2011



cerveja mais cara do mundo
ainda bem que tá em promoção.
da sessão; EU QUERO!!!

Caneca da Pilsner em alto relevo!
linda, linda, linda!!!

old, but gold.


Há 64 anos, milhares de visitantes desembarcavam em várias praias da Normandia, na França. Pronta para recebê-los, esperava uma equipe bem treinada. Ainda assim, a estadia desses "turistas" esteve longe de ser pacífica e amistosa.

Talvez porque a equipe que os recebeu, em vez de agentes do Visitors and Convention Bureau, era composta de soldados inimigos armados até os dentes. E os visitantes eram soldados aliados com a missão de libertar a Europa da dominação nazista. O dia, claro, era o 5 de junho de 1944, que marcou a "virada de mesa" da 2ª Guerra Mundial e entrou para a história como Dia D .

Ainda bem que hoje, depois de 64 anos, você já pode ir visitar o teatro de guerra e ser recebido, não com balas, mas com calor humano. O turismo de guerra na Normandia é muito bem estruturado, com empresas que fazem passeios temáticos, como "Band of Brothers Tour", que refaz o caminho percorrido pela famosa Companhia Easy, da 101º divisão, mostrado na série de mesmo nome da HBO, inúmeros museus e visitas guiadas.

Como profundo amante da 2ª Guerra, não pude deixar de visitar a Normandia em minha primeira incursão pelo Velho Mundo.

A cidade escolhida como base para minha "operação" foi Caen, que é bastante central na região. Pequena e acolhedora, com impressionantes prédios do século XI, Caen foi bombardeada durante a guerra e teve muitos dos seus marcos destruídos. A história é guardada e recontada com zelo por seus moradores.

Mas seu atrativo mais irresistível para os aficionados pela 2ª Guerra é o Memorial da Paz, um museu que conta a história das batalhas em solo europeu, dos anos negros na França (sob o domínio alemão), e das deportações para os campos de concentração e genocídio. Assustador, este último espaço serve para lembrarmos de que, melhor do que apagar o que se passou, é manter viva a idéia de que a intolerância pode nos leve a trilhar o mesmo caminho.

Do Memorial da Paz, saem algumas visitas guiadas, e foi em uma delas que me inscrevi. Num frio de rachar (prefira fazer o passei durante o verão ou primavera!), passei pelas praias do desembarque, Gold, Utah e a sangrenta Omaha, onde mais de 3 mil soldados foram mortos no desembarque.

Ainda é possível ver, escondidos entre a vegetação, ninhos de metralhadoras e bunkers de artilharia, resquícios da Muralha do Atlântico, estrategicamente arranjados em frente às praias, de modo a cobrir praticamente toda sua área e levar o terror às tropas aliadas.

Dali, parti para visitar os cemitérios americano e alemão. Enquanto o primeiro tem lápides em mármore carrara e recebe milhares de visitantes por mês, o segundo é marcado por pedras vulcânicas, discrição e tem uma porta estreita, que só possibilita a entrada de uma pessoa por vez, para lembrar que a vida é mesmo uma viagem solitária.

Felizmente, para o bem do mundo como o conhecemos, a viagem dos heróis da 2ª Grande Guerra foi tudo, menos solitária.