terça-feira, maio 21, 2019

Tenho muito medo de morrer.
Mas o medo está passando.
E o enfado é tanto, que até a caveiruda já não parece tão assustadora.
Estou velho de novo. Cada ano que passa fico mais novo e mais velho. Um dia de cada vez. Mas hoje, estou velho, esfarrapado, carcomido...

Sofro pelo passado, pelo futuro que pode não acontecer e pelo presente que se faz de esperto e sabe se esconder e fugir de supetão, a todo instante.

Lembro de um sonho perdido, em algum lugar da minha memória. Não tenho a lembrança completa, só umas pequenas sensações de pertencimento e flashes de algo que não faz sentido. Coloco uma música triste para tocar, penso em me embebedar e penso se ainda vale à pena alguma coisa.

Hoje sofro por sofrer, por esporte, por prazer. Hoje não tenho futuro, esperança ou perspectiva. Hoje, sou velho. Amanhã, talvez, nasça jovem novamente...

A ver. A ver.

segunda-feira, maio 20, 2019

encontrei uns textos antigos, da série pequenas paixões e vou postando aqui aos poucos.
A menina que corria

Ela passou por mim como um fantasma. Um vulto em alta velocidade, um borrão que por muito pouco não escapou da minha retina. Mas os segundos em que a luz dela emanou - sim, ela emite luz, não reflete - foram o bastante. Obrigado, Hermes.

Do que vi, tudo ficou. Nem um detalhe deixei escapar de minhas memórias. Lembro como se fosse a chegada apoteótica de uma maratona, daquelas que passam em replay por dias a fio, suor, esforço e vitória. E ela era assim...

Os cabelos flutuando no ar, comandando o vento, cortando átomos de nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. Uma pequena bomba atômica de cor negra explodindo a cada passada, destruindo tudo o que eu entendo por realidade passo sim e outro também. Ou seria meu coração desesperado batendo forte a cada inspiração e expiração?

As pequenas gotas de suor que caiam no chão criavam um mundo de aromas e perfumes que atraíram abelhas, formigas e diabéticos, em busca do néctar sagrado. Como se seu corpo fosse o filtro de uma outra dimensão inalcançável, onde tudo é melhor e mais perfeito. Como se dele não fosse criado ácido lático, mas o maná que alimentasse almas aflitas de amor.

Seu corpo era a personificação da Amazona, seus músculos trabalhando em tão perfeita sintonia que o esforço parecia de mentira. Uma brincadeira de pique entre crianças que nunca irão se cansar. Suas pequenas pintas, portas para universos onde exploradores ficarão para sempre perdidos e de onde só sairão se seguirem sua estrela. Com mil mundos a serem vistos e percorridos em cada uma delas, sentidos e tocados, vivendo somente à base de sua luz.

E isso tudo percebi por essa mesma luz, em milésimos de segundos que ficaram para sempre marcados em mim. Torcendo para que, após todas as voltas imaginárias que ela precisa cumprir, a linha de chegada seja sempre em mim.

domingo, maio 05, 2019

Nas notícias, as pessoas morrem e se matam. O dia fica pesado, a melancolia pesa e a tristeza aparece. Sem motivo, tudo fica triste e sem cor. A vida perde sentido e a verdade é que a idade pesa. Não de verdade, mas toda a história que vem com ela e que é preciso carregar como se fosse uma mochila ou uma cauda que fica mais pesada a cada dia, semana, mês, ano...
Meu aniversário tá chegando e não tenho a menor vontade de comemorar. Não tenho o que comemorar.


quantas mais não-comemorações terei?