segunda-feira, maio 20, 2019

A menina que corria

Ela passou por mim como um fantasma. Um vulto em alta velocidade, um borrão que por muito pouco não escapou da minha retina. Mas os segundos em que a luz dela emanou - sim, ela emite luz, não reflete - foram o bastante. Obrigado, Hermes.

Do que vi, tudo ficou. Nem um detalhe deixei escapar de minhas memórias. Lembro como se fosse a chegada apoteótica de uma maratona, daquelas que passam em replay por dias a fio, suor, esforço e vitória. E ela era assim...

Os cabelos flutuando no ar, comandando o vento, cortando átomos de nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. Uma pequena bomba atômica de cor negra explodindo a cada passada, destruindo tudo o que eu entendo por realidade passo sim e outro também. Ou seria meu coração desesperado batendo forte a cada inspiração e expiração?

As pequenas gotas de suor que caiam no chão criavam um mundo de aromas e perfumes que atraíram abelhas, formigas e diabéticos, em busca do néctar sagrado. Como se seu corpo fosse o filtro de uma outra dimensão inalcançável, onde tudo é melhor e mais perfeito. Como se dele não fosse criado ácido lático, mas o maná que alimentasse almas aflitas de amor.

Seu corpo era a personificação da Amazona, seus músculos trabalhando em tão perfeita sintonia que o esforço parecia de mentira. Uma brincadeira de pique entre crianças que nunca irão se cansar. Suas pequenas pintas, portas para universos onde exploradores ficarão para sempre perdidos e de onde só sairão se seguirem sua estrela. Com mil mundos a serem vistos e percorridos em cada uma delas, sentidos e tocados, vivendo somente à base de sua luz.

E isso tudo percebi por essa mesma luz, em milésimos de segundos que ficaram para sempre marcados em mim. Torcendo para que, após todas as voltas imaginárias que ela precisa cumprir, a linha de chegada seja sempre em mim.

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