segunda-feira, dezembro 26, 2016

Devo dizer que tenho um puta orgulho disso aqui. E que escrevo para mim.
Adoro me ler, depois de um tempo.
Mesmo sem revisão (foda-se), mesmo sem repensar, às vezes mesmo sem pensar.
Esse blog é meu streaming mental, é o que penso, em cada minuto marcado ali (dia 13 de dezembro, 20:48 - era assim que sentia, que escrevia, que pensava, que sofria).

A alma ausente é minha, e apesar de parecer dar as caras por aqui, tempos em tempos,
ainda não a encontrei.

Minhas primeiras postagens, de um blog já debutante.


Dia de textão - apesar de odiar o termo cheio de maus exemplos em tempos de intolerância ao diferente nas redes sociais.
Mas acontece que 2016 está acabando e esse foi um ano em que todos, sem exceção, tiveram mais motivos para reclamar do que para agradecer. Eu, deste lado de cá, reclamei também, mas poderia, e devo, agradecer mais.

Vamos aos fatos.

Virei 2015 para 16 em Gibraltar, um pedacinho de terra no sul da Espanha que faz parte do Reino Unido. O mesmo Reino Unido que, em junho, resolveu que precisava sair da União Europeia, deixando uma enorme incógnita quanto ao meu futuro por aqui.
Viemos para a Europa, primariamente, para morar em Londres (cidade mais cara do mundo - e sentimos isso na PELE). Se não em Londres, na Inglaterra. Ficamos uma ano lá (um pouco menos, uns 11 meses). Foram tempos difíceis e, além de ter que controlar o desbunde de estar na capital de tudo por um ano, tive a oportunidade de começar a arrumar uns bicos, empregos nada fáceis, mas que davam um dinheirinho ao fim do mês. No mês que mais ganhei, recebi quase mil libras. Fui, feliz, comprar um iPad novo para mim e para a Ju. O nosso anterior já era um trambolho e dava defeitos demais.

Bom, fiquei um ano enviando currículos por lá, e não rolou muita coisa na minha área. O dinheiro estava acabando e precisava, urgentemente, arrumar qualquer coisa que pudesse nos sustentar. MESMO. Era isso ou voltar para o Brasil. E então veio o chamado para cá. Gibraltar.

Não tínhamos nem a opção de discutir se viríamos ou não. Viemos e, veja, só, depois de muito tempo, consegui uma recolocação no mercado, agora europeu. Sei como isso é difícil e como devo ser grato por não estar mais nos bicos que pagam mixaria por hora trabalhada. Sei como é difícil se tornar um profissional aqui (e olha que vim pra cá com 38 anos) e deixar de ser a mão-de-obra imigrante barata. E consegui. Foi difícil, foi duro, foi sofrido (e ainda é, por N motivos), mas foi.

Enfim, virei o ano novo aqui. Tomei um porre e torci o pé. hahahaha

No trabalho, mostrei serviço. Na vida, abri as portas para receber amigos queridos (várias vezes durante o ano) em minha casa. Fui com eles a Gibraltar, rodamos muito pela Andalucía, Sevilla, Málaga, Marbella...

Tive meu pai em casa por 21 dias. Veio para passar meu aniversário aqui. Foi bom, foi ruim e foi como deveria ser. Deixou saudade, claro. Conhecemos uma amiga querida que passou voando por aqui e por motivos de saúde já voltou para o Brasil. Mas que nos deixou uma lição de vida, uma plantinha e sua bicicleta.

Por razões estranhas e vias tortas, fui promovido na empresa. Entrei na área de Marketing Digital, finalmente. Fiquei 3 meses. Por mais razões estranhas e vias tortas, fui relocado para outra área, ainda dentro do marketing, em agosto. Reiniciei minha carreira profissional 3 vezes, em menos de um ano. Motivos para alegria, confesso.
E aí, teve o Brexit. A libra despencou, despencou meu salário (que é sempre convertido de libra para euro) e as contas aumentaram. Tivemos que nos mudar para um apartamento menor e mais barato. E comprei um carro, já que locomoção é um problema por aqui. São contas que batem pesado e muitas vezes tiram o chão, dando lugar ao desespero e sofrimento. Reclamo, esperneio, tenho crises. É bom escrever, para passar por cima e ver que o mundo não acaba em uma conta atrasada. Enquanto tiver pernas, irei caminhar.

Mas 2016 também teve Eurocopa e Portugal foi campeão. Quando fui para o Brasil, na correria, em julho, estava guardando o passaporte quando um outro passageiro me falou, forçando o português inexistente, "Parabéns". Não entendi nada e virei para trás, perguntando o motivo. Ele apontou para o passaporte português e disse: "Pela Eurocopa". Agradeci, tomando o floreio como uma graça, mas não sentindo-me portador de tal título, ainda que, pela nacionalidade, seja.

Não me enxergo mais como português, brasileiro, carioca ou o que seja. Quando essas barreiras nacionais são derrubadas e convives com uma multitude de nacionalidades e personalidades, passas a dar valor ao que a pessoa é, em caráter. Trabalho com gente que nem sei de que país é, e isso realmente não faz a menor diferença.

Uma das coisas que mais me marcou em 2016 foi ter feito 40 anos. Não sem antes aparecer, de supetão, um pequeno "problema" de saúde relacionado à idade. Tive uma lesão na retina, com descolamento de alguma meleca dentro do meu cristalino. Passei a ver sombras no olho esquerdo, muitas sombras. As famosas moscas volantes. Situação comum em quem tem mais de 5 graus de miopia (tenho 5 1/2) e mais de 40 anos. Uma bosta. Ou seja, além de todos os questionamentos que já tenho com relação a idade, ao envelhecimento aparente do corpo, dos amigos e da barba branca, ainda terei que conviver com esta merda pelo resto da minha vida. Vida.

Tantas pessoas morreram em 2016. Tantos "famosos". Nossos ídolos vão nos deixando, um a um. Agradeço por ter uma família resistente. Uma tia-avó rumo aos 101 anos, meu avô indo pros 98 e minha avó para os 91. Penso se, como eu, eles ainda são as mesmas pessoas dos 15, 18, 20 anos...
O tempo passa, as responsabilidades são jogadas em seus ombros, queira ou não, e você se "torna" um adulto. Nunca serei, infelizmente.
Estou mais para idoso do que para adolescente e não me considero um adulto. Tenho carro, pago aluguel, trabalho, mas e daí?
Existirá um momento em que tudo fará mais sentido como adulto? Ou só levaremos essa vida questionando isso até a morte chegar? Ainda tenho atitudes infantis, mas sinto a urgência dos 40. Diferente dos 30, quando não via sentido e achava que não tinha nada na vida, hoje sei dar valor ao que tenho, e vejo a porta se fechando lá na frente. Preciso aproveitar tudo ao máximo antes que me torne um imprestável. O futuro assombra. Disso, me queixo.

Aos 40, tornei-me vegetariano, ou pescateriano (ainda como peixe, envergonhado, é verdade). Não consigo mais ser responsável pela morte de animais. Mesmo que não seja eu o assassino, era por minha causa também que eles eram (e ainda são) abatidos. Já não quero mais este karma para mim. Terei tempo para limpar minha vida e buscar o Darma de não comer mais carne animal?

Junto com a idade e o aperto financeiro, descobri que posso viver sem muito luxo. E o mais importante, sem comprar nada. Nada, não, que ainda vou a mercado. Mas itens materiais, não compro mais. Desde junho não compro um disco. Roupas, a Ju compra, mesmo que diga não ser necessário. Mas mesmo isso caiu para uma vez a cada 4 meses. Tenho coisas demais e tempo de menos pra consumi-los. Para que tê-los, em verdade?

Quero ter cada vez menos. Ser leve, juntar minha vida em uma mochila. Tentar entender-me internamente e não criar um ser externo com experiências materiais - ser = ter.

Aproximo-me de uma divindade, penso mais, respeito mais, agradeço mais. Talvez a religiosidade seja uma porta que jovens não conseguem abrir. Espero ter esta chave, em busca de paz. Prometo, em 2017, reclamar menos e agradecer mais.

O ano foi essa confusão de pensamentos e, agora, memórias. Não fiz jus ao que vivi nestas linhas. Nem era esta minha intenção. Talvez a vontade era apenas de escrever e tirar o banzo do fim de ano pesado e de dívidas. Se foi isso, consegui.
Que venha mais desafios, mais amores e sofrimentos, mais perdas e encontros, mais um pouco de tudo, que a gente ainda tá aguentando bem o tranco. Fiquemos com Deus, pois.

Feliz Ano Novo.









sábado, dezembro 17, 2016

Demorei 40 anos para parar de comer carne.
Aprendo devagar, já viu.

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Ainda não aprendi a beber.
Quer dizer, aprendi faz muito tempo.
O que não aprendi foi a parar de beber.
Principalmente quando o clima é bom, entre amigos e com diversão. Aí, a bebida desce sem rédeas. E, em pouco tempo, o combalido corpo de guerra entra em colapso.

quinta-feira, dezembro 08, 2016

Antes aqui:



Metallica – Hardwired... to Self-Destruct

Hoje em dia é difícil escrever sobre um lançamento. O que mais há é opinião por aí. Ou seja, resenhar é sempre uma batalha por evitar revisitar o que já foi lido e debatido e tentar trazer algo novo para a mesa. Muitas vezes, não é possível . Mas desta vez, admito, estou animado para encarar o desafio

Faz algumas semanas o Metallica, a maior banda de rock pesado do planeta, lançou seu décimo álbum de estúdio (só considero os álbuns autorais): Hardwired… To Self-Destruct. O disquinho foi celebrado como um retorno às origens, um sopro de renovação para a banda. Um paradoxo interessante, ter que voltar às origens para se renovar.
O ponto é que o Metallica se tornou relevante uma vez mais.

Com uma estratégia de divulgação absurdamente bem feita (não esqueçam, o Metallica é uma máquina bem azeitada de fazer dinheiro e marketing), o disco foi o centro das discussões dos círculos musicais durante pelo menos, uma semana. Uma eternidade neste mundinho efêmero de hoje. Alguns aplaudiram. Outros cornetaram. Mas todos falaram deles. Bom, escrevi até aqui e não falei do disco. E aí, o disco é bom?

Em minha humilde opinião, o disco é bom, sim. Não é um clássico, mas é bem feito. E para comparar, andei escutando os lançamentos anteriores deles (Death Magnetic – 2008 - e St. Anger – 2003). Não resisti e dei uma gargalhada ao ouvir os primeiros minutos do disco de 2003. Esqueçam-no! Hardwired é um disco do Metallica. Riffs, peso, melodia e até uns refrões. O grande defeito é que a edição deluxe traz um disco a mais, com versões de músicas do Rainbow retiradas do tributo ao DIO, do Iron Maiden, uma música lançada apenas em single (a melhor de todo o álbum – Lords of Summer) e umas gravações ao vivo bem dispensáveis.

Como já disse, não é um lançamento que irá mudar a vida de ninguém. Mas ainda assim, vamos bater os pezinhos, tocar air guitars, chacoalhar a cabeça e colocar uns milhões a mais na conta do Metallica.

terça-feira, dezembro 06, 2016

sexta-feira, novembro 18, 2016

meu blog tem quase 15 anos, 3395 postagens e 3 seguidores.
Sou um case de fracasso.

E adoro isso.

Antes aqui:

Oi, Tio!

Parei no vermelho. Dei bobeira e a janela ficou aberta. Um enxame de microemprendedores de sinal apóia os braços na porta do carro e, cada um ao mesmo tempo agora, tenta me empurrar alguma buginganga que não preciso. Não preciso, mas não nego que muitas delas me impressionam e adoraria ter um tempo maior do que um sinal vermelho para discutir a utilidade de cada uma em minha vida. Mas o sinal abre e dou adeus a todos eles, sem comprar nada, a não ser um saquinho de irresistíveis balas de café.

Não vendo balinhas de café, mas adoraria ter o tempo de um sinal fechado para vender meus textinhos daqui para você. Entender o que esse público (meu público? tenho público?) quer ler ou pretende absorver em um texto curto de uma coluninha. Um sinal amarelo já bastava. Tudo o que eu quero é seu tempo, suas pupilas dilatadas, seu sorriso no meio dessa carona linda. Carona aqui, não tem nada a ver com automóvel, só com cara grande, uma forma carinhosa de falar, você sabe.

Acontece que hoje em dia o bem de mais valioso, e - putz - não renovável,  é o tempo. O meu, o seu, o do consumidor. Os impulsos de compra são decididos em micro-momentos, nos poucos segundos em que olho a tela do celular entre um email e outro. Os likes que solto por aí, o tempo que passo em cada blog ou site de notícias, tudo isso é monetizável (odeio essa palavra) em termos de internet. E, para que não passe mais tempo fora da internet, doando todo o tempo livre para os outros, as grandes corporações criam maneiras de acompanhar-nos em todo momento. Relógios com internet, cozinha com internet, telefones com internet, roupas conectadas, carros que não precisaremos mais dirigir e que nos darão mais tempo para, sim, ficarmos na internet. Isso até o momento em que vamos estar 100% do tempo em realidade virtual, doando 100% do nosso tempo para todos os outros, enquanto achamos que nos divertimos, passando um tempo a sós, consigo mesmo. Isso sim é aproveitar a vida.


Um sorriso leve aparece no canto da boca de algum empreendedor bilionário do outro lado da rede.

quarta-feira, novembro 02, 2016

Antes aqui:

Interruptor

Posso não parecer, mas sou um profundo admirador do ser humano. Nos últimos anos, no entanto, não há esperança na humanidade que sobreviva à realidade. Como disse certa vez o pensador Amaral, ótimo cabeça-de-área do Palmeiras nos anos 90, a esperança é a única que morre.

Lamento dizer, querid@, mas não é só a esperança que morreu. Ontem mesmo uma menina que foi atingida por uma explosão de bueiro faleceu. Ela estava saindo de uma festa. Para morrer basta estar vivo, é verdade. E ainda tem a tuma da piada pronta, a que ri de qualquer desgraça, dizendo que “Morreu? Antes ela do que eu.”

Até quando, no entanto? Ela veio antes, e antes dela teve o travesti que foi espancado até a morte por ser… ele mesmo. Ou a menina que levou uma bala perdida olhando a vista pela janela. Viver é perigoso. Mas o perigo chegou a níveis alarmantes no Brasil. Na verdade, quem está vivo até hoje é que faz parte das estatísticas. Morrer de causa natural (qual seria ela?) é uma improbabilidade. Haja colesterol, atropelamento de ciclista e armas de fogo…


Como disse acima, sou um profundo admirador da raça humana. Alcançamos algo que nenhuma outra raça conseguiu. Se auto-extinguir. Em termos de fazer merda, não dá para ninguém. A não ser, claro, que uma espaçonave pouse na Terra nas próximas décadas e me faça engolir cada uma dessas palavras jogadas ao ventilador. Mas aí, com um alienígena me olhando, engulo qualquer coisa.
A Rússia amigos é um país doido. Isso é ponto pacífico. Ou belicoso, já que um desses doidos está à frente do país. O mundo como conhecemos tem, no máximo, dois anos a mais de vida.

Irão desligar a Matrix. E seja o que Deus, ou quem quer que você acredite que seja o dono desta porra toda, quiser.
Escrever o que e por que?

Não quero que você leia isso aqui.
Ao mesmo tempo em que queria poder espalhar que estou escrevendo mais frequentemente no blog, sei que as coisas daqui são imensamente pessoais agora e não há motivo para sair por aí bragging about the things I write. (faltou a palavra e estou de saco cheio de buscar uma tradução para as expressões em outra língua que aparecem na minha cabeça na hora de escrever um texto).

Então, é um alívio e um medo verificar as estatísticas da página e ver o número ZERO lá. ZERO visualizações e ZERO comentários.

:)

Obrigado, blogger. Obrigado brógui. Obligado blóder.

quarta-feira, outubro 26, 2016

A página aberta do editor online é sempre um convite para escrever.
Passo por um momento de volta às origens, busco músicas que ouvi um dia, lá atrás. Hoje em dia, tudo é disponível e, baummanianamente, líquido.

Por motivos além de escolhas, não compro mais álbuns como gostaria, liquefazendo meus gostos em streamings. CDs são o passado, do qual não quero largar. A volta ao vinil é a busca desesperada por uma era em que tínhamos tempo para parar e escutar um disco inteiro, de cabo a rabo, lados A e B, ler as letras, ficar segurando a capa na mão, curtindo a arte, esperando chegar a hora de ir dormir porque no outro dia tinha aula de manhã cedo.

O que buscamos é uma volta às origens, queremos não ter que nos preocupar com dívidas, crises políticas e econômicas, com os filhos dos outros (ou com os nossos). Queremos ser livres, como nunca mais iremos ser. Quero, neste caso, eu mesmo, ouvir pela primeira vez um disco dos anos 90, estando nos anos 90. Quero tanta coisa que é melhor não querer.

parece triste. mas é assim.

quinta-feira, outubro 20, 2016

Somos frágeis, tão frágeis, que tivemos que criar caixas de concreto para colocar-nos dentro e sentirmo-nos protegidos (in order to feel safe). Uma queda, um escorregão, uma batida com a cabeça no banheiro e pronto. Fomos dessa para melhor. Uma infecção, uma bactéria pode querer aproveitar nosso corpo, quentinho e molhado, para se reproduzir, acabando assim com seu hospedeiro. Você. Eu, não, que tomo minhas vitaminas e faço meus exercícios matinais.

Estamos aí, flutuando no espaço, como diz Jason Pierce. Um meteoro pode cair e levar-nos à extinção. E não há dinheiro que nos salve. Um raio pode cair em sua cabeça, durante um beijo cinematográfico debaixo de uma chuva torrencial, coroando um encontro que vinha se alongando a anos. Tudo pode acontecer a qualquer momento. E continuamos andando, beijando debaixo da chuva, não escovando os dentes e, pasmem, vivendo.


Somos uma espécie fadada ao fracasso que, ainda assim, faz música e se agarra à existência com unhas, dentes e tudo o mais que puder ser inventado. Parabéns, seres humanos, por serem tão risíveis e se levarem tão a sério. Uma hora há de evoluirmos. Até lá, seguimos.