sexta-feira, novembro 18, 2016

Antes aqui:

Oi, Tio!

Parei no vermelho. Dei bobeira e a janela ficou aberta. Um enxame de microemprendedores de sinal apóia os braços na porta do carro e, cada um ao mesmo tempo agora, tenta me empurrar alguma buginganga que não preciso. Não preciso, mas não nego que muitas delas me impressionam e adoraria ter um tempo maior do que um sinal vermelho para discutir a utilidade de cada uma em minha vida. Mas o sinal abre e dou adeus a todos eles, sem comprar nada, a não ser um saquinho de irresistíveis balas de café.

Não vendo balinhas de café, mas adoraria ter o tempo de um sinal fechado para vender meus textinhos daqui para você. Entender o que esse público (meu público? tenho público?) quer ler ou pretende absorver em um texto curto de uma coluninha. Um sinal amarelo já bastava. Tudo o que eu quero é seu tempo, suas pupilas dilatadas, seu sorriso no meio dessa carona linda. Carona aqui, não tem nada a ver com automóvel, só com cara grande, uma forma carinhosa de falar, você sabe.

Acontece que hoje em dia o bem de mais valioso, e - putz - não renovável,  é o tempo. O meu, o seu, o do consumidor. Os impulsos de compra são decididos em micro-momentos, nos poucos segundos em que olho a tela do celular entre um email e outro. Os likes que solto por aí, o tempo que passo em cada blog ou site de notícias, tudo isso é monetizável (odeio essa palavra) em termos de internet. E, para que não passe mais tempo fora da internet, doando todo o tempo livre para os outros, as grandes corporações criam maneiras de acompanhar-nos em todo momento. Relógios com internet, cozinha com internet, telefones com internet, roupas conectadas, carros que não precisaremos mais dirigir e que nos darão mais tempo para, sim, ficarmos na internet. Isso até o momento em que vamos estar 100% do tempo em realidade virtual, doando 100% do nosso tempo para todos os outros, enquanto achamos que nos divertimos, passando um tempo a sós, consigo mesmo. Isso sim é aproveitar a vida.


Um sorriso leve aparece no canto da boca de algum empreendedor bilionário do outro lado da rede.

Nenhum comentário: