segunda-feira, dezembro 26, 2016

Dia de textão - apesar de odiar o termo cheio de maus exemplos em tempos de intolerância ao diferente nas redes sociais.
Mas acontece que 2016 está acabando e esse foi um ano em que todos, sem exceção, tiveram mais motivos para reclamar do que para agradecer. Eu, deste lado de cá, reclamei também, mas poderia, e devo, agradecer mais.

Vamos aos fatos.

Virei 2015 para 16 em Gibraltar, um pedacinho de terra no sul da Espanha que faz parte do Reino Unido. O mesmo Reino Unido que, em junho, resolveu que precisava sair da União Europeia, deixando uma enorme incógnita quanto ao meu futuro por aqui.
Viemos para a Europa, primariamente, para morar em Londres (cidade mais cara do mundo - e sentimos isso na PELE). Se não em Londres, na Inglaterra. Ficamos uma ano lá (um pouco menos, uns 11 meses). Foram tempos difíceis e, além de ter que controlar o desbunde de estar na capital de tudo por um ano, tive a oportunidade de começar a arrumar uns bicos, empregos nada fáceis, mas que davam um dinheirinho ao fim do mês. No mês que mais ganhei, recebi quase mil libras. Fui, feliz, comprar um iPad novo para mim e para a Ju. O nosso anterior já era um trambolho e dava defeitos demais.

Bom, fiquei um ano enviando currículos por lá, e não rolou muita coisa na minha área. O dinheiro estava acabando e precisava, urgentemente, arrumar qualquer coisa que pudesse nos sustentar. MESMO. Era isso ou voltar para o Brasil. E então veio o chamado para cá. Gibraltar.

Não tínhamos nem a opção de discutir se viríamos ou não. Viemos e, veja, só, depois de muito tempo, consegui uma recolocação no mercado, agora europeu. Sei como isso é difícil e como devo ser grato por não estar mais nos bicos que pagam mixaria por hora trabalhada. Sei como é difícil se tornar um profissional aqui (e olha que vim pra cá com 38 anos) e deixar de ser a mão-de-obra imigrante barata. E consegui. Foi difícil, foi duro, foi sofrido (e ainda é, por N motivos), mas foi.

Enfim, virei o ano novo aqui. Tomei um porre e torci o pé. hahahaha

No trabalho, mostrei serviço. Na vida, abri as portas para receber amigos queridos (várias vezes durante o ano) em minha casa. Fui com eles a Gibraltar, rodamos muito pela Andalucía, Sevilla, Málaga, Marbella...

Tive meu pai em casa por 21 dias. Veio para passar meu aniversário aqui. Foi bom, foi ruim e foi como deveria ser. Deixou saudade, claro. Conhecemos uma amiga querida que passou voando por aqui e por motivos de saúde já voltou para o Brasil. Mas que nos deixou uma lição de vida, uma plantinha e sua bicicleta.

Por razões estranhas e vias tortas, fui promovido na empresa. Entrei na área de Marketing Digital, finalmente. Fiquei 3 meses. Por mais razões estranhas e vias tortas, fui relocado para outra área, ainda dentro do marketing, em agosto. Reiniciei minha carreira profissional 3 vezes, em menos de um ano. Motivos para alegria, confesso.
E aí, teve o Brexit. A libra despencou, despencou meu salário (que é sempre convertido de libra para euro) e as contas aumentaram. Tivemos que nos mudar para um apartamento menor e mais barato. E comprei um carro, já que locomoção é um problema por aqui. São contas que batem pesado e muitas vezes tiram o chão, dando lugar ao desespero e sofrimento. Reclamo, esperneio, tenho crises. É bom escrever, para passar por cima e ver que o mundo não acaba em uma conta atrasada. Enquanto tiver pernas, irei caminhar.

Mas 2016 também teve Eurocopa e Portugal foi campeão. Quando fui para o Brasil, na correria, em julho, estava guardando o passaporte quando um outro passageiro me falou, forçando o português inexistente, "Parabéns". Não entendi nada e virei para trás, perguntando o motivo. Ele apontou para o passaporte português e disse: "Pela Eurocopa". Agradeci, tomando o floreio como uma graça, mas não sentindo-me portador de tal título, ainda que, pela nacionalidade, seja.

Não me enxergo mais como português, brasileiro, carioca ou o que seja. Quando essas barreiras nacionais são derrubadas e convives com uma multitude de nacionalidades e personalidades, passas a dar valor ao que a pessoa é, em caráter. Trabalho com gente que nem sei de que país é, e isso realmente não faz a menor diferença.

Uma das coisas que mais me marcou em 2016 foi ter feito 40 anos. Não sem antes aparecer, de supetão, um pequeno "problema" de saúde relacionado à idade. Tive uma lesão na retina, com descolamento de alguma meleca dentro do meu cristalino. Passei a ver sombras no olho esquerdo, muitas sombras. As famosas moscas volantes. Situação comum em quem tem mais de 5 graus de miopia (tenho 5 1/2) e mais de 40 anos. Uma bosta. Ou seja, além de todos os questionamentos que já tenho com relação a idade, ao envelhecimento aparente do corpo, dos amigos e da barba branca, ainda terei que conviver com esta merda pelo resto da minha vida. Vida.

Tantas pessoas morreram em 2016. Tantos "famosos". Nossos ídolos vão nos deixando, um a um. Agradeço por ter uma família resistente. Uma tia-avó rumo aos 101 anos, meu avô indo pros 98 e minha avó para os 91. Penso se, como eu, eles ainda são as mesmas pessoas dos 15, 18, 20 anos...
O tempo passa, as responsabilidades são jogadas em seus ombros, queira ou não, e você se "torna" um adulto. Nunca serei, infelizmente.
Estou mais para idoso do que para adolescente e não me considero um adulto. Tenho carro, pago aluguel, trabalho, mas e daí?
Existirá um momento em que tudo fará mais sentido como adulto? Ou só levaremos essa vida questionando isso até a morte chegar? Ainda tenho atitudes infantis, mas sinto a urgência dos 40. Diferente dos 30, quando não via sentido e achava que não tinha nada na vida, hoje sei dar valor ao que tenho, e vejo a porta se fechando lá na frente. Preciso aproveitar tudo ao máximo antes que me torne um imprestável. O futuro assombra. Disso, me queixo.

Aos 40, tornei-me vegetariano, ou pescateriano (ainda como peixe, envergonhado, é verdade). Não consigo mais ser responsável pela morte de animais. Mesmo que não seja eu o assassino, era por minha causa também que eles eram (e ainda são) abatidos. Já não quero mais este karma para mim. Terei tempo para limpar minha vida e buscar o Darma de não comer mais carne animal?

Junto com a idade e o aperto financeiro, descobri que posso viver sem muito luxo. E o mais importante, sem comprar nada. Nada, não, que ainda vou a mercado. Mas itens materiais, não compro mais. Desde junho não compro um disco. Roupas, a Ju compra, mesmo que diga não ser necessário. Mas mesmo isso caiu para uma vez a cada 4 meses. Tenho coisas demais e tempo de menos pra consumi-los. Para que tê-los, em verdade?

Quero ter cada vez menos. Ser leve, juntar minha vida em uma mochila. Tentar entender-me internamente e não criar um ser externo com experiências materiais - ser = ter.

Aproximo-me de uma divindade, penso mais, respeito mais, agradeço mais. Talvez a religiosidade seja uma porta que jovens não conseguem abrir. Espero ter esta chave, em busca de paz. Prometo, em 2017, reclamar menos e agradecer mais.

O ano foi essa confusão de pensamentos e, agora, memórias. Não fiz jus ao que vivi nestas linhas. Nem era esta minha intenção. Talvez a vontade era apenas de escrever e tirar o banzo do fim de ano pesado e de dívidas. Se foi isso, consegui.
Que venha mais desafios, mais amores e sofrimentos, mais perdas e encontros, mais um pouco de tudo, que a gente ainda tá aguentando bem o tranco. Fiquemos com Deus, pois.

Feliz Ano Novo.









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