terça-feira, julho 19, 2011

Não pude deixar de perceber, não pude deixar de escrever. A vida dele já não é lá essas coisas. Não sei onde mora, sabia. Era uma casa não lá muito cheio de móveis, mas com cama, mesas, sua mãe e irmã, talvez.
Não faço ideia quando deixou o real para trás. Parece agora viver em um mundo só dele. Amigo, nem sei se chamarei-o assim, dividiu a cama comigo. Dividiu o gozo, ou disse ter dividido. Tomou do bom e do melhor e provou alguma coisa amarga também.
Tocava atabaque e dançava, como só os artistas podem fazê-lo, entre atores e mendigos, entre caveirinhas e magrelos.

Uma vez, saímos por aí, uma paca, uns peixes, bobó de camarão, sons, cervejas e cachaças. Era uma época boa, lembro-me. Parou em frente à casa de seu pai, nos convidou para entrar. Ouvimos um disco das antigas. Roberto? Tim? A vitrolinha se montava com as caixas de som escondidas embaixo das engrenagens.

Era tudo mais fácil nessa época, os risos, o estranhamento, as ideias e as esperanças. Em algum ponto, não existia mais: eu. Ele sempre vagueou, sempre fez-se existir. Era o cara, alguns até mesmo o queriam por perto. Tinham prazer, tinham desejo, tinham vontades. A magrela sumiu. A madeixa sumiu. A mais bela, sumiu.

Para onde foram, ninguém sabe. Talvez nunca saberão. Talvez nem ele saiba. Ele que parece cada vez mais longe, cada vez dentro dele e só.

O julgamento vem rápido e rápido se vai, como uma baforada de fumaça. Como a última gota de uma lata de cerveja. Talvez já seja hora de deitar e deixar-se ir. Pelo menos seria uma boa lembrança, ainda que esquisita e incômoda, de uns tempos para cá. Mas com o passar dos ponteiros, características se amenam, se desfazem, aos poucos vão abrindo espaço, tornando-se translúcidas. Até o ponto em que só resta o rosto, de um momento qualquer. Ou um sorriso ou uma jogada de corpo, um drible, um chute.

E no fim, nem a lembrança. Ela acaba se esvaindo como nossa própria memória. Como nós vamos aos poucos, comida de vermes, energia palpitante de um mundo novo. Quem sabe ele já não está lá, coroado em vez de bobo?
Quem sabe o que há para lá? Afinal, quem sabe o que há?

2 comentários:

caio disse...

Fico feliz de não saber... É o alento que resta.

Taylor disse...

poizé;;;
e o que me deixa cada vez mais maluco...