domingo, julho 05, 2009

ainda incompleto...

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Ele anda pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Os paralelepípedos, já não tão bem assentados depois de centenas de anos servindo de apoio para pés de nobres e plebeus, fazem com que torça o pé todos os dias. A dor do lado de seu pé direito é constante. E ele luta com ela, pisando aqui e ali, tentando não torcer o pé, tentando acertar a passada, com cuidado, olha o buraco, olha a pedra portuguesa solta, lá vem o carro e pronto. Pé torcido mais um dia. Um puxão de dor, que no dia seguinte não estará bem. E que ainda vai ser causa de mais uma pequena torção no pé direito.

Mas não é isso que nos interessa. Em verdade, pouco nos interessa nessa narrativa.

Elas andam tristes. Cabeças para baixo, mais fugindo dos olhares do que olhando o chão. Calças daquelas compradas em bancas de promoção de lojas populares de roupas femininas. Perfumes baratos, imitações de fragrâncias famosas, com vida útil de poucos minutos. O suficiente talvez para que elas se sintam cheirosas, ainda que em pouco tempo o único cheiro que reste seja o de álcool, também barato.

A garganta começa a queimar. Vem de baixo para cima. O gosto de ácido na boca, a queimação chegando até a língua. Gastrite. Refluxo. Ele para em uma lanchonete. Vê frutas e receitas penduradas por todos os lados. Pede um suco de cacau e sai pela rua bebendo.

Ela coloca as mãos em sua nuca. As duas, ao mesmo tempo. Como se estivesse cansada, com dor no pescoço talvez. Faz isso com tanta naturalidade e com tanta sensualidade que ele não pode deixar de olha-la. Ele continua a acmpanhar o andar, sem jeito, da menina triste, como tantas outras. Ela encontra seu olhar. Encantado, ele não consegue desviar seu olhar e seus olhos se encontram por momentos mínimos. Ela é quem foge. E volta a olhar para baixo, como todas as outras. E sorri.

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