sábado, maio 01, 2010

O auto-exílio

Aconteceu de ler o Dapieve esta sexta e ele escrever sobre o Botafogo.
Como o espaço deixa transparecer, existem algumas coisas que vem e vão na minha vida. Gostos, bandas, cidades, amigos, empregos. Mas o Botafogo continua aqui. E continua o mesmo. Enfim, existe um amor na vida de um homem. Um que não admite traição: seu clube de futebol.
Como todo grande amor, claro, há os momentos de mais ternura, quando você compra uma camisa, uma bandeira. Há os momentos de paixão efusiva, quando você compra a camisa com a cara do jogador que depois de 6 meses irá deixar seu time na mão e embarcar em mais uma aventura recheada de petro-dólares no Catar ou nos Emirados Árabes.
Há também os momentos de dúvida, de decepção, de perguntar se vale a pena, de saber levar na maciota o sentimento, trocando até um jogo por um jantar com outro amor.
Bom, voltemos ao assunto que está no título e nas primeiras linhas deste texto. Dapieve e auto-exílio. Escreve o mestre que, durante a final do Carioca de 2010 (taça rio para os outros), estava em Portugal para um encontro de escritores. Sim, ele sabia da data do jogo, mas como já escrevi há poucas palavras atrás, há acontecimentos que precisam ser assumidos perante seu amor. Ou recobrar a conciência, diriam os mais céticos, aqueles que não gostam de futebol. E lá foi ele para a palestra e para o jantar que se seguiria. Lá pelas tantas, resolve ligar para sua esposa, só para saber o resultado (não foi isso que aconteceu, mas resume bem a história e me leva ao ponto onde quero chegar). Ganhamos, ela diz.
Pronto. Ele sozinho, em outro país, dá um sorriso. E foi isso.
Assim comemorou o fim da fila de 3 intermináveis anos perdendo para o flamengo. Ou empatando, né? Já que a FIFA considera que mesmo com vitória nos pênaltis, o resultado do jogo em si é empate. Mas seguimos a vida.

Pulo rápido para véspera da final. São Paulo, amigos, show de rock, cerveja, hotel. E, claro, a volta para o Rio, afinal segunda é dia de trabalho. Quis o destino que o horário em que fosse pegar o ônibus na rodoviária fosse exatamente o do jogo. Sim, sabia. Mas há momentos.. .etc etc etc.

Embarquei e deixei para trás o sofrimento, a gritaria, a taquicardia e a felicidade da final(como pude saber depois). Era o que precisava fazer. Embarcar. Me propor um auto-exílio, esquecer o futebol. Voltar a realidade, dirão os que não amam um escudo, seja ele qual for. De dentro do ônibus, escuto as pessoas comentando o resultado. Acreditem, uma jovem havia apostado uma garrafa de cerveja com amigo alvinegro, que fazia questão de enviá-la as notícias do jogo, via torpedo. Assim fiquei sabendo do empate do flamengo, minha primeira parcela de informação.
Pensei: como assim empate? Quer dizer que estivemos ganhando?! Menos mal que não estou vendo essa porcaria ou já estaria surtando. Muitos minutos depois, mais um plim plim avisando nova mensagem. Gol do Botafogo. Mais um pênalti. Foram os dois de penal.
Pensei: Dois gols de penal? Meu Deus, o que estou perdendo?
Imaginava os jogadores que poderiam ter batido. Já queria saber mais. Queria saber tudo. Quem tinha começado jogando? Como foram as faltas máximas? Mas nenhuma fatia de informação foi adicionada ao pouco recheio dos torpedos. O máximo foi um plim plim, seguido de um "acabou" da menina. Me virei para trás, para olhar para a cara dela, meu rosto transformado pela curiosidade, pelo sofrimento, pela espera da notícia.

Parabéns, O Botafogo ganhou. 2 a 1.
Sorri. Foi só o que fiz. Cerrei os punhos, como um lutador que finalmente derruba seu adversário. Agora queria estar no maracanã, gritando É Campeão, vendo a volta olímpica, o levantar da taça. Mas quis eu que não fosse assim. Sabia que não seria quando tive que ir para São Paulo. Como um daqueles momentos em que você sabe que precisa estar presente, como o nascimento do seu sobrinho ou o aniversário de 50 anos de casamento de seus avós, mas não pode. Estava, como o Dapieve, em outro país. No país estrada, num ônibus inter-estadual, meu restaurante português.
Como ele não gritei. E como ele também fui feliz na solidão.

Mas acho que no fim, guardei a emoção. Dentro de mim, aos poucos ela foi sendo digerida e transformada em felicidade. Em gentileza. Em amor. Em sentimentos bons. Ter essa emoção dentro de mim, guardada, fazendo parte de meu corpo, de minha alma, não foi o que esperava para uma final de campeonato. Mas foi o que tive. E que me tornou uma pessoa melhor.

***

auto-exílio.

Um comentário:

Juliana Araujo disse...

aaaaamo o dapi, mas tanto vc qto ele so falam do botafogo, pelamor. ja escrevi pra ele reclamando uma vez, rs.