segunda-feira, julho 19, 2004

Noite. A escuridão dominava todas as partes da cidade. Nada se via com clareza, a exceção, talvez, dos faróis acesos dos carros que passavam pelas ruas desertas. B estava em casa, com amigos. B estava em casa, sozinho. Umas latas de cerveja, uma música nas caixas de som. Horas se passavam e, cada vez mais, B se sentia sozinho.
Angustiado até.
 
Fim de festa. Fim de caso. B resolve ir fazer parte dos faróis acesos nas ruas desertas.
Mal sabia ele...
Em seu carro, B se sentia confortável. O calor ficava do lado de fora, o som era ele que escolhia, assim como a velocidade do mundo, das pessoas que passavam por ele sem perguntar que horas eram. Sem se importar que horas eram. Enfim, o tempo nunca foi importante mesmo. As horas passam e o que restam são detalhes, momentos.
 
Uma rua, outra rua, curvas e decisões. Um prédio, um telefonema ao celular. Outra curva...
B se cansa de esperar pela vida. Resolve dar uma mexida nas regras.
“oi, estou aqui embaixo”.
Ele vê a janela....
...
...
Faltam palavras. Faltam luzes na cidade. Falta luz em seu caminho.
B olha para cima e o que vê, o faz querer parar o mundo naquele momento. Querer parar toda a existência, toda e qualquer forma de raciocínio. O que ele vê não se explica com palavras. Uma janela, emoldurada por uma luz laranja, um rosto no escuro.
Um pedido de desculpas e tudo o que resta para B. Um pedido e a sensação de ter vivido a vida inteira para olhar para aquela janela. Aquele quadro pintado pelas mãos de Deus, em plena noite de sábado. B ficou mais feliz. Triste e feliz.
 
B volta para sua casa, que é o seu lugar. E o que restou para ele, de tudo isso, foi uma janela.
Agora a do seu quarto. Uma janela que mostra um céu cheio de estrelas. Noite. A escuridão domina todas as partes da cidade. Nada se vê com clareza, a exceção, talvez, dos faróis acesos dos carros que passavam pelas ruas desertas.

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