quarta-feira, abril 13, 2005

Então vamos ao texto veríssimiano.

Luis Fernando Veríssimo
(sempre assinando o texto antes, nunca depois)


Hoje acordei de manhã. Era um dia qualquer, como todos os outros. Entre o xixi matinal e a primeira golada no café quente feito por Dona Maroca, pensei o porque de tantas atitudes normais, repetidas, rotineiras em um dia. Geralmente acordo no mesmo horário, percorro o mesmo caminho até o banheiro e depois para o café de Dona Maroca. Depois almoço no mesmo horário, no mesmo restaurante a quilo, escrevo minhas crônicas durante a tarde e tomo meu lanche lá pelas cinco da tarde. Preferia estar lá no meio dos imortais, no chá da Academia Brasileira de Letras, mas ainda não me aceitaram lá. Quem sabe quando morrer vire imortal, apesar do paradoxo.
Mas voltando à minha rotina, comecei me achar repetitivo e previsível. Comecei a questionar a qualidade do que escrevo, me sentir velho e decadente e, pior de tudo, pragmático. E quando você começa a se achar uma dessas palavras complicadas, que dificilmente alguma pessoa comum sabe o significado, é hora de aposentar as chuteiras. No meu caso, as canetas.
No entanto, ante a névoa que cobre meus olhos enquanto revejo miha vida (e que não é obra da catarata, que operei ano passado) consigo vislumbrar uma saída, uma mexida necessária no meu dia-a-dia. A solução para a pasmaceira, para a rotina cansativa e envelhecedora na qual estou preso. Amanhã mesmo demito Dona Maroca e começo a fazer meu café.

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