segunda-feira, outubro 10, 2011

Vamos aproveitar os momentos em que o mundo dá voltas, mas o trabalho não sai, para escrever.

Estamos todos mudos.
Esse poderia ser o novo nome da grooveada canção que Roberto Carlos escreveu faz alguns anos, se a inspiração só o tivesse atingido de uns anos para cá.
Não é que estejamos sem nos comunicar. Não. Isso fazemos bem, até bastante bem. O que não faltam são meios para expressarmos ideias, jogarmos nossos pensamentos aos tubarões, aos porcos e aos leões, ao mesmo tempo. As tão faladas mídias sociais, com sua rapidez de reprodução de bobagens e lugares-comuns ditos e repetidos à exaustão, são (talvez infelizmente) uma realidade. Mas, apesar de tão propalada ligação entre os seres e seus amigos virtuais, nunca falamos tão pouco. Comunicar hoje é espancar freneticamente um teclado, mas não muito rápido, que logo os 140 caracteres permitidos, uma cela de dois por dois para as ideias, chegam ao fim. A voz, essa involução, está sendo deixada de lado. Dentro do metrô, do ônibus, nas ruas, o que mais se vê são autômatos em silêncio, cabisbaixos, a visualizar telas ou entupidos com fones que despejam silêncio por todos os poros. O diálogo, quando há, é intermediado por celulares e aparelhos que já nem sei mais do que chamar. E até nesses momentos de quebras de regras, onde o silêncio que antes imperava é destruído por um qualquer, olhamos de cara feia, esperando que a política da boa vizinhança seja forte o suficiente para que esses faladores calem-se ou escondam-se, envergonhados de suas palavras, proferidas tão ferozmente. Vejo um mundo parecido com o da animação Wall-e onde, em vez de pernas improdutivas, teremos pequenas protuberâncias onde antes havia uma língua, essa revolucionária criadora de fonemas. Uma pena, pois perderemos nossas risadas, os xingamentos no trânsito e até o prazer do primeiro beijo, de língua, em uma menina. Mas e daí, se tudo o que precisamos está ao alcance de um click. Click, aliás, que morrerá, assim como todas as onomatopeias, epopeias e odisseias. E não se esqueça: leia isso em voz baixa. Ou vai acabar atrapalhando o trabalho, lento e irreversível, da evolução.

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