terça-feira, abril 12, 2011

Cinema no Alemão

Quando começamos a conversar sobre a matéria de cinemas com cunho social, pensamos logo no Cine Carioca Nova Brasília, no Complexo do Alemão. Inaugurado na véspera de natal de 2010, o cinema foi um presente para uma comunidade que estava mais acostumada a cenas de ações na vida real do que nas telas.

Depois da ocupação do Complexo, a paz voltou a reinar, as obras começaram a andar e o poder (do) público finalmente pode voltar a mostrar sua cara. Desde sua abertura, o Cine Carioca é a sala com a maior média de ocupação da América Latina. Sorte? Preço baixo? Ou uma oportunidade para mostrar que quando há a oferta de cultura, independente de local, há a presença do público?

Wellington Cardoso, o gerente geral do Cine Carioca, e quase vizinho da sala, afirma que o preço é importante, já que com 10 reais se assiste ao filme, com direito a pipoca e refrigerante, mas a presença das crianças, vendo repetidas vezes filmes com tecnologia 3D, não esconde que a magia do cinema é mesmo um bichinho que quando morde é difícil se livrar.


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Parece coisa da juventude Zona Sul (e é). Mas ir no coração do Alemão foi uma experiência e tanto. Almoçar em Olaria, do lado do alçapão da Bariri, ver as ruelas e casas amontoadas, milhares de fios acima de sua cabeça, em um emaranhado difícil de se decifrar, sentir o cheiro do morro, com tratores e escavadeiras num trabalho frenético, como se pagassem a conta de décadas de descaso. Ver crianças brincando, correndo, pessoas andando pra cima e pra baixo, formigueiro humano. Olhares de estranheza parecem me perfurar a cada passo que dou. Saem os fuzis, entram as câmeras de filmagem. A comunidade exposta. Não queria fazer isso, ser mais um "turista da paz". Mas é o ofício. Tenho que ir, tenho que perguntar, quero saber, no fundo.

As perguntas acabam acontecendo, fogem da boca e da cabeça, sem pudor. Como era antes? Como era a violência? As respostas são, quase todas, fugidias. Em vez da violência, vamos falar do futuro. Está bom, está bem. Vai melhorar. Aqui vai ser uma praça, ali um centro de treinamento em audiovisual...

Bom, melhor esquecer. Sem esquecer, na verdade. Para manter sempre um olho aberto, examinando como as feridas da violência estão cicatrizando. E se vão cicatrizar.

2 comentários:

Gil Pender - Livre como um táxi disse...

O foda foi que expulsaram pra não se sabe onde os traficas cheios de armas e com consciência social...

Anônimo disse...

é, cara. eles estão é se espalhando pelo Brasil...

Taylor