sábado, abril 07, 2012

Eu entendo o Caio.
Cada dia mais.

Para os que não conhecem, o Caio é um grande amigo, com uma diferença de idade de quase dez anos.
É, eu faço 36 em maio, ele 46 em dezembro.
Quando o conheci, ele devia ter seus 30 e poucos. Era mais velho.
Hoje o mais velho sou eu.
E cada vez entendo mais o que ele falava naquela época.
Hoje, então, pensei que deu pra festivais.
E me peguei pensando o mesmo que ele, só saio de casa agora pra ver um show do Hendrix.
Ok, não vou tão longe, vai.

Mas depois de duas décadas de shows, acho que já vi bastante coisa e cada vez menos me sinto compelido
a assistir a um show imperdível. Eles cada vez são menos imperdíveis, cada vez mais descartáveis e passageiros, cada vez mais da banda do dia, do mês ou, se muito, do ano. Acho que a bagagem, tudo o que você já viu acaba pesando nessa hora.
Vi muitas das bandas que queria, muitas mesmo. Já fiz uma lista aqui mesmo nesse blog.
Música ainda é legal. Mas shows são cada vez menos.

Como não posso cuspir no prato em que comi, fui no Circo ver o Foster The People e me diverti bastante.
Ótimo show, com energia e timing perfeitos. Mas e daqui a cinco anos? Será que fará tanta diferença assim tê-los visto em 2012?

E o Friendly Fires, que tocou aqui em 2009, e voltou em 2012 na turnê do disco meia boca?
Esse eu tive tanta preguiça, que acabei nem indo ver. No fundo bate uma dorzinha, mas que passa em dois, três dias. Já vi, no auge (e era só o primeiro disco, hein...).

Agora são onze e quarenta da noite. Acabei de ver o Foo Fighters fazer um bom show no Lolapaloza, em São Paulo.
Acabou, desliguei a tv. Estava em casa, de banho tomado, sem dor nas pernas, sem suar, sem ter que pensar em como farei para voltar para o hotel, sem crise em poder dormir até tarde, sem o danado do compromisso de ter que estar lá de novo no dia seguinte, ainda cansado da noite anterior e encarar mais um dia inteiro comendo porcarias, ao relento, ouvindo qualquer coisa até que as bandas que eu gosto toquem, em geral, um set menor, feito para festival mesmo.
Ou seja, motivo algum para me martirizar por não ter ido. Na verdade, fiquei até feliz por não ter ido.

Inclua aí o público mais interessado em aparecer, dizer que foi, beber pra caralho cerveja ruim e quente por sete, oito reais a lata, a fumaça de cigarro, o futum da maconha...
É, bicho, o lance é cada vez mais em casa.

Agora, do alto dos quase 36, o que me faz sair de casa pra ir em um show é um bom disco, a memória afetiva e os amigos. Ou um show do Hendrix. Esse, nem eu e nem o caio, perderíamos.

***

Quem sabe até o SWU eu mude de opinião e compre umas entradas vips, com comidas, bebidas e lugar pra sentar?

4 comentários:

Gil Pender - Livre como um táxi disse...

Muito bom texto, pra NÃO variar.

O trecho de que mais gostei foi " o Caio é um grande amigo".

Nossa amizade, com todas as nossas diferenças, é uma vitória de ambos.


OBS: quando te conheci eu tinha exatos 30 anos de idade. Foi em 1997, na Lama, quando eu ouvia no meu Fiat Uno um cd do Bad Religion (Recipe for Hate). Você vinha da UFES, acho, e parou pra falar com o Paulim. Colou no carro (estacionado ao lado do Buana) e começamos a papear a respeito da banda e do disco. Depois a conversa enveredou (sabe-se lá por qual razão) pro Primal Scream e assim fomos.

E estamos até hoje.

Gil Pender - Livre como um táxi disse...

"o Caio é um grande amigo" - em alguns momentos, ainda mais que em outros, é pra lá de bom ler isso.


Abraços.

Taylor disse...

às vezes, mais que amigo, é inspiração.

TCo disse...

Amigos, ainda bem que vocês sabem ler. Escrever? É só uma consequência espasmódica. Os restos que ficam pros outros, por melhor que seja, nunca será um décimo do que se processa no que (quando) entra na cabeça de vocês dois.