terça-feira, março 30, 2010

Minerva e os Três Estrelas

trabalho no centro do Rio, na rua México, em um edifício chamado Minerva.
Engraçado que hoje, ao entrar no elevador, fiquei pensando no nome do edifício.
Para brincar com as palavras, preciso dizer que é difícil esperar o elevador daqui. Além de ter sempre um em conserto, há algumas clínicas espalhadas pelos 12 andares de salas comerciais. O que sempre me faz parar em quase todos os andares antes de chegar no décimo segundo, onde trabalho.
Além da demora do elevador, daqueles de porta pantográfica, lembrança da pujança carioca dos anos 50, sempre subo com alguma velhinha. Ou velhinho. Ou casal de velhinhos. Eles, cabelos brancos ou calvos. Óculos. Elas, braços roliços, cabelos pintados. Sempre baixos. Existirão velhos altos? Às vezes andam de mãos dadas, às vezes já assumem a distância entre eles, ex-casais que ainda andam juntos, mais apoiados um no outro, do que qualquer coisa.

Clínicas espalhadas pelo prédio. Imagine quem visita clínicas. São pessoas doentes, oras. Quem em corpo são viria passear por salas de espera e barulhinhos de máquinas de convênio imprimindo a via que você precisa assinar? Pois então são essas as energias que Minerva, agora não a Deusa, carrega em seus vergalhões de aço, cansados do tempo. O prédio, que tem sempre uma ambulância parada à sua porta, espera pela morte, como cada um de nós. Ainda que não pensemos nisso. Ainda que não queiramos pensar. Minerva, eureka, me enerva. E me deixa escorrer por entre andares, entre clínicas, velhos e doentes. É só mais um dia de trabalho que começa.

***

Minerva também me lembra mitologia. Adoro mitologia. mitologia grega e romana. E me lembra outra coisa. Domingos pela manhã, quando ainda morava com meus pais. Em alguns deles, saíamos de carro pela cidade e parávamos naquela esquina onde havia uma loja de comida árabe. Hoje me lembrei, do charutinho de folhas de uva, dos kibes, da coalhada. O nome da dona, a que vendia para a nova família, desejosa de seus temperos orientais, era Minerva. E tinha o sabão em pó também. Mas essa fica para a próxima.

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Os três estrelas.

Geralmente vamos ao cinema, compramos um livro ou baixamos um disco (quem compra discos afinal? só eu mesmo...) esperando ser arrebatados. Queremos sair chorando ou pulando de felicidade do cinema. Queremos ter lido um clássico, bem escrito e interessante, quando fechamos a contracapa depois de ler a última página do livro. Queremos os refrões perfeitos, os catchy tunes nas músicas. QUeremos que seja boa, que grude na cabeça e que não seja tão pop assim, vai.
Queremos inteligentzia acima do comum quando falamos de arte.

(continua a continuar depois do almoço)

Um comentário:

Gil Pender - Livre como um táxi disse...

Vc está no 12º andar; eu estou prestes a descer para o inferno. É a vida.