quinta-feira, abril 13, 2006

Da janela do avião, tudo o que via eram nuvens. Muitas nuvens. Isso quando não estava dentro de uma delas, o que não me possibilitava enxergar muito além do meu nariz. E foi assim que cheguei na terra dos Leprechauns, dos trevos e dos pubs. Muitos pubs.

Corre o boato que os irlandeses são os brasileiros da Europa. Tirando a falta de jeito para o futebol, poderiam até ser mesmos. Têm um gosto muito particular para o sorriso, para a conversa e para o jeitão tropical de levar a vida numa boa. A Irlanda, amigos, não é um país sério, poderia dizer o General de Gaulle. Mas eles o são. Sérios principalmente quando o assunto é bebida. E eu, com uma pequena disfunção hepática recém diagnosticada, fui para lá lavar a alma antes de dar um tempo no etílico. Não poderia ter escolhido um lugar melhor. Em todo lugar que se olha, a rainha das cervejas está presente. E ela, ao contrário das nossas loiras geladas, é uma morena quente. Placas e pubs carregando a marca da Guinness existem aos borbotões, como se uma fonte inesgotável dessa maravilha estivesse no meio de uma praça, para os sortudos irlandeses. Enfeitiçando cada passo, tornando sua estada no lugar uma experiência inebriante. Um tornado em sua cabeça deixando tudo sempre mais leve. Dublin é assim. Uma cidade com, pelo menos, 5% de graduação alcoólica no ar.

E desse jeito, sempre meio alegre, se vai andando para todo lugar. Visita a fábrica da Guinness, a fábrica do Jameson, a fábrica do Bailleys. Compra uma camisa verde, com o trevo símbolo do país, tenta entender o celta, a língua deles de verdade, e se rende ao hambúrguer nada diferente do Supermac’s. De repente, você se vê irlandês. Não consegue sentir falta do sol, das mulatas, das pernas de fora. E se torna mais um. Começa a não gostar de espanhóis e ingleses cambaleantes, paisagem típica. Começa a ter um pouco de ciúmes de sua cidade, antes tranquila, mas agora invadida por turistas acidentais, aproveitando o preço baixo das coisas. Apesar de, para brasileiros, o “barato“ ainda ser em euro. Começa a ter o seu pub, aquele que você frequenta diariamente, nem que seu diariamente valha por apenas dois dias.

Entender esse local, essa cultura, faz parte de uma experiência maior. Parte do gosto pela cerveja, para o gosto pela música, sempre da melhor qualidade e em qualquer lugar. Seja nas ruas, onde artistas se apresentam em busca de trocados, seja nos restaurantes, onde a música ambiente passa longe da muzak, mas se aproxima maravilhosamente do que de melhor as Ilhas Britânicas têm para nos oferecer. Como Bowie, Beatles e Oasis, só para citar os mais conhecidos. Mas são os não conhecidos, aqui no Brasil, que mantêm o nível musical sempre próximo da perfeição. Claro, pode ser efeito da cerveja, que nos pubs é sempre intercalada com um shot de whiskey (com E mesmo). Ou pode ser o ótimo gosto que os danados realmente têm pela vida. Ou ainda o nacionalismo que emana de cada esquina e, muito diferente da patriotada americana, é simpático e convidativo.

É com essa leveza de espírito que Dublin se firma como uma cidade feita, principalmente, para amigos e para um ótimo bate-papo regado por sua estupenda cerveja e música. Só falta agora eles gritarem pentacampeão.

Nenhum comentário: