Frio
Está na cara, o inverno chegou. Pelas ruas, a naftalina
volta a toda. Felizes, botas e cachecóis vêm dar a sua volta anual pelas ruas
esburacadas e sudorentas. Então, como em um passe de mágica, as mulheres ficam
todas, sem exceção, mais bonitas.
Fiquei pensando nessa última afirmação por algum tempo. Em
minha caminhada matinal até o trabalho, depois de um cafezinho tradicional em
um balcão, vejo mil e uma mulheres lindas. Meninas, garotas, gatinhas, idosas,
empresárias, executivas, estudantes. O corpo desfilando, coberto. O vento
gelado nas bochechas rosadas. A imaginação, essa companheira indiscreta,
descortina saias e meias-calças, e desmascara a grande ilusão do inverno.
Em uma cidade praieira, os corpos desfilam sem muita
cobertura. Pernas saradas e bronzeadas de fora. Barrigas malhadas em skates e
patins na orla da praia. Cabelo molhado de sal, biquínis e saídas jogadas na
areia. A perfeição pode até não existir, deixando espaço para uma manchinha
aqui ou uma pequena acne acolá. Mas perto dessas amazonas, as mulheres comuns,
as que trabalham e cuidam de casa, as que tomam conta de seus filhos e dos
maridos, ou simplesmente as que preferem uma mesa de bar ou um livro à praia,
se reduzem, recolhendo-se envergonhadas com suas falhas.
No inverno, não. As fazendas cobrem tudo. O joelho, esse
estranho, é prazer aos olhos, como se com o cair das temperaturas também
voltássemos décadas no tempo. O frio democratiza a beleza. Fica a cargo de
nossas mentes, e não mais de nossos olhos, escolher a mais bela. A moça de formas
abundantes, desfila seu desejo, liberta de vergonhas. E, ao fim, ficam mais
belas pelo simples motivo de, despreocupadas, serem um pouco mais feliz.
Um comentário:
O INVERNO ESTÁ...
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