segunda-feira, junho 15, 2009



deve-se escrever um mini-conto baseado nesta ilustraçao aí de cima. envie para a Piauí e participe do concurso Piaui/FLIP de continhos. eu mandei. esse aí de baixo.


Na Revista

Ele olha para a ilustração na revista. Aos pés de um homem, a mulher deitada se abraça. No cinzeiro, restos de cigarros. A dúvida que vem à cabeça é quem teria fumado todos os cigarros que estavam, aos restos, deixados no cinzeiro.
As guimbas mal-cheirosas emolduravam o reencontro. A mulher, deitada, enlaçada em seus próprios braços. Sua solidão mostrada em um gesto. Sua insegurança e sua carência, brigando com sua vontade de ser feliz. Seu rosto sem sentido, não conseguia mais sorrir. Nem chorar. Era o rosto de quem, de tanto olhar para o mesmo lugar, não enxerga mais nada. Uma paisagem sem vida. Ele está em pé ao seu lado. Sabe que se atrasou. Pede desculpas. Ela não responde, fica apenas deitada. Olha para o teto, foge do encontro de olhares. Não quer se lembrar de seu rosto suado, em cima desse mesmo tapete, testemunha de episódios repletos de sexo e amor. Agora, apenas testemunha de horas e horas de espera. Ele estava no escritório, foi chamado para uma reunião importante. Não teve como ligar. Ela não acredita, na verdade, não acredita em mais nada. Tinha desistido. Desistido das desculpas, desistido de si própria, desistido dele. Eram delas, então, as guimbas fumadas durante a espera. O encontro não teria um final feliz. Eles não eram mais dois amantes. Talvez ex-amantes. Ou eram apenas mais um casal, daqueles enfiados na rotina de dividir a mesma casa, a mesma cama, as mesmas contas, que tinham marcado de sair para jantar, quem sabe esticar a noitada num motelzinho, para esquentar a relação. Ou nada disso? O maluco, dos sapatos de couro italiano, bem lustrados, teria fumado um a um os cigarros que restavam no maço, enquanto em uma crise psicótica, cortava lentamente as pernas da moça. Ela deitada, sentiria o frio do choque e na tentativa de se aquecer se abraça, enquanto ele, em pé ao seu lado, segura uma machadinha suja de sangue.
Ele fecha a revista e a joga dentro do balde que costuma usar como revisteiro. Se limpa rapidamente e puxa a descarga. Agora tem mais com o que se preocupar, do que ficar inventando histórias enquanto olha para a ilustração da revista.

Nenhum comentário: