segunda-feira, agosto 22, 2005

Piripipi Piripipi Piripipi
O alarme do despertador, tocava incessantemente. Era um daqueles baratos, comprados pelas ruas do centro, onde camelôs se amontoam e brigam por espaço e para ver que tem o despertador que toca mais alto.

Olhou para o lado, viu ela ao seu lado. O toque do aparelho ainda não tinha incomodado seu sono. Um sono profundo, repleto de cansaço, depois de uma longa noite. Longa e agitada. Não conseguia se lembrar de como tinham ido parar lá. Era seu apartamento, sem dúvida, mas como haviam chegado ali?
E mais, quem era ela? Qual seria seu nome?

Droga de vodka. Quando mais se precisa de memória o álcool da vodka pede licença e toma cada sinapse para si, largando memórias pela cidade, pelos momentos que são vividos e nunca mais lembrados.

Piripipi Piripipi Piripipi
O despertador não desistia. Ela se mexeu, desconfortável na cama. Desliga ele agora! Pronto. A calma estava de volta ao quarto. Ela ainda estava dormindo. Via-se pelos olhos que se moviam de uma lado para o outro completamente sem sentido. Um sonho. Mas qual sonho?

Ela se via em um campo de futebol. Eram todos contra ela. Um time de 11 correndo para pegá-la. Mas ela não era páreo para todos eles. Logo se viu deitada na grama. O Sol estava lindo nesse dia. Ofuscava sua visão. Ela se levantou devagar, tirou a roupa e deu um mergulho no lago. A água estava deliciosa. Tinha gosto de vinho. A taça que carregava teve sua serventia. Um brinde, meu querido. Pelas nossas horas de amor. Bom esse vinho. É de água. Vinhos de água são melhores que vinhos de uva. Nunca soube disso. Pois agora sabe. E graças a mim.

Se levantou. Caminhou, com cuidado, até o banheiro. Seu cabelo estava medonho. Sua cara amassada, inchada de sono. Um bocejo veio nessa hora. Se não fosse sexta, ia voltar para cama. Sexta-feira. Tenho que repensar essas saídas na quinta. Boate, então nem pensar. E ela? E agora?

A água do chuveiro caiu como um tapa, espantando o resto de sono que estava relutando em ir embora. Sabão, Xampu. Creme no rosto. Secador de cabelo. Se enrolou na toalha. No quarto, ela já estava de olhos abertos, cheios de preguiça. Sonhei com você. A gente estava tomando vinho num rio. O rio era de vinho.
Riu uma risada boba, leve, de quem não tem com que se preocupar. Que idéia, né? Rio de vinho. Sorriu.

E lá estava, naquele sorriso, tudo o que a havia encantado naquela quinta-feira. Uma força que parecia jogar vida por onde passasse. Os olhos se fechavam um pouco, a bochecha abria espaços para as covinhas mais lindas que já tinha visto, os dentes apareciam um pouco, apenas o suficiente para se ver que eram bem montados e de um branco glacial.

Já está indo trabalhar? Já. Já tomei meu banho. Tudo bem. Não vou ficar aqui, pode deixar. Vou só me vestir e, se der, me deixa ali na esquina. Tem um ponto de táxi perto do meu trabalho. Te levo até lá. Ficamos um pouco mais de tempo juntas. Ótimo. E lá veio o sorriso de novo.

Saiu de baixo das cobertas. Enquanto ela se apressava em se vestir, ficou olhando o corpo dela. Não era perfeito. A maquiagem e a roupa davam uma boa cobertura para as falhas comuns. Mas a luz da boate, junto com a vodka, a transformaram em alguém bem mais desejável. Quase uma Vênus. Enfim, não eram estrias ou celulite que a fariam ser menos desejada. Houve uma pequena briga com a calça, que apesar de não querer entrar, a deixou bem mais chamativa. A blusa, apenas um leve pedaço de pano, cobriu seus seios.

Pronto. Era isso. Estavam em frente ao ponto de táxi na esquina de seu trabalho. Seus olhares se encontraram, mas não foram muita além disso. O beijo não veio. Medo de ser vista perto do trabalho. Um abraço. Ela já carregava um pouco seu próprio cheiro, o mesmo que sua mãe gostava de sentir quando ia almoçar em sua casa.

Então, é isso. É. Tá, foi legal te conhecer. É, foi sim. A gente se vê por aí. É.
Tchau. A porta bate. No pequeno espaço entre a porta do seu carro e a do táxi, ela foi acompanhada por apetitosos olhares de praticamente todos os homens em condições de olhá-la. E assim ela se foi.
Ela não, Marcela. Pronto. Tchau Marcela.

E foi em frente. Afinal, sexta sempre foi um dia cheio de trabalho no escritório.

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