terça-feira, abril 16, 2013

Antes aqui




Lar é onde sua cabeça está

Uma das coisas que nunca me saiu da cabeça, nos mais de 20 anos em que morei em Vitória, foi: preciso voltar para o Rio. Foi lá que nasci e de onde fui tirado, traumaticamente, por uma transferência profissional na carreira dos meus pais. E tirando eles, que ainda moram na Ilha do Mel, não tenho mais ninguém da minha árvore genealógica presente na cidade. Quem me resta, em termos de família, está no Rio. E no interior de São Paulo. Ou em Santa Catarina. Ou mesmo nos Estados Unidos, da última vez que soube, em Chicago e Dallas.

Portanto, não deveria ser uma tarefa das mais difíceis dar adeus e me colocar a “caminho de casa”. Acontece que a vida foi se espalhando por Vitória, as amizades crescendo como raízes pelos quatro cantos da ilha (e do continente) e, quando dei por mim, era impossível deixar tudo para trás de uma vez por todas. A mudança veio aos poucos. Em determinados momentos, cheguei a me dividir. Meio ano aqui, meio ano acolá. Até que, depois de muitas indas e vindas, voltei para o Rio de Janeiro.

Mas por que o Rio?

Essa é uma boa pergunta. Além da família, claro, devo ter outros motivos. Quando era mais jovem, eram as praias com ondas. Depois, os shows nacionais e internacionais. Ontem, pelo Botafogo. Hoje, pela esposa. E a cada dia me sinto mais (e menos) carioca. Perco tempo no trânsito, me aperto no metrô, presencio o descaso de autoridades e cidadãos. Tomo café em um prédio da época do império, me desbundo sempre que vejo a praia de Botafogo e faço o sinal da cruz toda vez que passo em frente a General Severiano.

Entre desgraças e esperanças, entretanto, vou me deixando cansar. Já não sinto o calor como um bem-vindo colega. Reclamo, quero frio. A malandragem da canção é pueril na realidade, e faz com que você precise ser mais esperto. Não há espaço para a coletividade. Não há gentileza gerando gentileza, muito pelo contrário. Nós não somos os outros. O estádio está fechado. Todos eles.  Caindo no clichê (ou seria na realidade?), sabemos que tudo será pior durante a Copa. Salários melhores, aluguéis maiores. Almoço para dois por 250 reais. Todos sorrindo e seguindo em frente. Então eu me pergunto: por que o Rio?

Talvez pela possibilidade de viver o Brasil onde ele é mais selvagem, onde ele é mais Brasil. Para tirar o doutorado de havaianas no pé, o canudo com cheiro de maresia, desviando de buracos nas lindas calçadas de pedras portuguesas. Para ter que estar sempre atento e se deleitar com o que a natureza nos presenteou de mais bonito. Para tentar ser melhor sempre, ainda que a vida te prove o contrário. O Rio é isso. E enquanto não me resolvo, vou vivendo como num reality show, estilo No Limite, onde o vencedor e o perdedor se encontram no fim, sobre a mesma laje, mostrando o samba no pé. 


Orai por nós.

7 comentários:

Gil Pender - Livre como um táxi disse...

Falar o quê?

Gil Pender - Livre como um táxi disse...

Posso dizer que te amo e que sinto saudades.

Soou gay, mas foda-se.

Taylor disse...

Soou não.
Fica tranquilo.

Pobre daqueles que, por conta de imagem ou vergonha, deixam de demonstrar seus sentimentos.

amo vc tb.

Gil Pender - Livre como um táxi disse...

Maravilha pura!

Isso dá um gás no resto do dia, rapá...

ABÇS.

Kalunga disse...

Vamo pará de viadagem, PORRA

Kalunga disse...

O melhor diagnóstico que já li sobre o Rio, mesmo conhecendo tão pouco o Rio, mas melhor que o diagnóstico de um amigo próximo não há.

Kalunga disse...

Ah sim, vc mora no meu coração também, JABOTAAAAAAA!

Saudades já de baixar aí na terrinha de vcs!

Manda um beijo pra Jú!