Habemus Papam
Estou em frente à televisão e nela vejo, em close, a chaminé
do Vaticano. Começa a sair uma fumaça. Branca. Habemus Papam.
Os sinos da igreja próxima ao meu trabalho dobram pelo novo
Papa. Repórteres excitados gritam nos microfones, em transmissões recortadas
pela má qualidade da internet do Vaticano. A multidão se aglomera na Praça de
São Pedro, agitando bandeiras do Vaticano, da Polônia e até do Brasil. Começam
os desfiles das bandas marciais. Música e festa emolduram os gritos de ordem,
que decretam: E Viva o Papa!
Agora, parem tudo. Que onda é essa? Que clima carnaval na
Bahia é esse que toma conta da transmissão, da Praça do Vaticano, dos católicos
em geral? Não se esqueça, estamos falando da religião em que, não importa o que
se faça, só existe vida em pecado. E Graça, só depois de morto. Da Igreja que
foi erguida sobre ouros e pedras preciosas de todos os cantos do mundo, que se
fortaleceu na aculturação dos índios, no massacre dos árabes e na perseguição
da Inquisição. Onde fica, na história da igreja, a felicidade que emana de
tantos sorrisos? Que esperança é essa, que dá ares por aí? Será em um mundo
melhor? Alcançado como, com palavras de mais um velhinho vestido de branco?
Papa Francisco, agora sei, argentino, torcedor do San
Lorenzo e matéria-prima para a maior quantidade de piadas sem graça por twittes
ou posts no facebook. Ele apareceu na sacada, no Fantástico, o Jornal Nacional,
na Folha, em sites de fofoca que descobriram até sua primeira namorada, em
sites políticos que descobriram até seu vínculo com a ditadura e onde mais seja
possível imaginar.
Não me lembro de tamanha capacidade de abstração da população
mundial. Todos são crentes, em algum momento. A fantasia é a melhor realidade.
Aparecem ateus, anticristãos, contrarreligiosos a negar e apontar. Falácia. Tudo
em vão.
Ao primeiro sorriso, Jorge Mario Bergoglio conquista a todos
com seu jeito bonachão. Um velhinho gente boa, que mexe com a gente, aflorando
lembranças de avôs que já se foram, cercados de saudade. A vontade é de abraça-lo,
buscando o conforto infantil que encontrávamos nos abraços do almoço de Natal
ou em tantas ocasiões onde um senhorzinho de cabelos brancos e carinhoso nos fez
feliz. Entre lágrimas nos olhos, um bom papado é o que nos resta desejar.