terça-feira, fevereiro 22, 2011

Hoje acordei...
não, melhor, ontem dormi pensando em escrever alguma coisa interessante e exterminar minha conta no facebook.
Só por ter lido a matéria da Revista Piauí, escrita por Zadie Smith.
Divido algumas partes com vocês e a matéria inteira, acredite se quiser, pode ser vista no facebook da Revista Piauí e no site da mesma
(http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-53/megabytes/quero-ficar-na-geracao-10).

"(...)Parece nunca lhe ter passado pela cabeça que muitos programas de rede social acabem estimulando explicitamente as pessoas a estabelecerem conexões fracas e superficiais umas com as outras, ou que isso possa não ser necessariamente positivo.

(...) Sobre a questão da privacidade, Zuckerberg informou ao mundo: “A norma social não passa de uma coisa que muda ao longo do tempo.” Naquela ocasião, o mundo respondeu protestando em voz bem alta, o que fez o Facebook responder com a criação da aba “grupos”, uma mudança nas regras do site que permite a cada um distribuir seus amigos em diversas “facções”, algumas das quais têm acesso maior ou menor ao nosso perfil.

Como a ideia dos “grupos” irá funcionar quando entrar no ar o “Facebook Connect”, ainda não se sabe. O Facebook Connect é “o próximo passo da plataforma Facebook”, em que “os usuáriosterão a ‘possibilidade’ de ‘conectar’ sua identidade do Facebook a qualquer site”. Nessa internet aberta, apresentaremos sempre nossas verdadeiras identidades enquanto navegamos. Esse conceito parece ter vantagens imediatas para um estoico: irá pôr fim aos pronunciamentos biliosos sem assinatura, às perorações incendiárias: se nosso nome e nossa rede social nos acompanham por todo o mundo virtual para além do Facebook, cada um de nós precisará lançar mão de uma certa compostura, assim como todos os circunstantes. Por outro lado, também levaremos para todo lado a lista das coisas de que gostamos ou não, nossas preferências e nossas escolhas, todas associadas aos nossos nomes. A partir disso irão tentar vender coisas para nós.

(...)Será realmente isso o melhor que se pode fazer na web? No filme, Sean Parker, durante uma de suas “maratonas de monólogo” alimentadas a cocaína, tenta definir toda uma geração: “Vivíamos no campo, fomos viver nas cidades e agora vamos viver na internet.” A essa ideia, Jaron Lanier, autor de Gadget – Você Não É um Aplicativo! e um dos visionários originais da internet, não pôde fazer nenhuma objeção profunda. Mas suas críticas ao “reducionismo nerd” da web 2.0 podem nos levar a indagar: de que tipo de vida estão falando? Certamente não da que levamos, em que 500 milhões de pessoas conectadas entre si podem decidir ver o mesmo reality show na tevê só porque seus amigos também estão assistindo. “Você já precisa ser alguém”, afirma Lanier, “antes de poder se compartilhar.” Para Zuckerberg, porém, ser alguém já é compartilhar suas preferências com todo mundo e fazer o que todos estiverem fazendo.

(...)Quando uma pessoa se transforma numa série de dados num website como o Facebook, tudo nela fica menor: a personalidade individual, as amizades, a linguagem, a sensibilidade. De certo modo, não deixa de ser uma forma de transcendência: perdemos nosso corpo, nossos sentimentos contraditórios, nossos desejos, nossos medos – o que me faz pensar que aqueles de nós que sempre recusaram, com repulsa, o que vemos como uma ideia burguesa hiperinflada da identidade individual talvez tenham exagerado no sentido inverso: as identidades despojadas que assumimos na rede não mostram mais liberdade. São, apenas, mais controladas por alguém.

Com o Facebook, Zuckerberg parece ter tentado criar algo semelhante a uma noosfera [“a esfera constituída pela inteligência humana” – do grego noos-, “espírito, mente” – imaginada por filósofos do início do século XX], uma internet dominada por um pensamento único, um ambiente uniforme em que na verdade não importa quem a pessoa seja, contanto que continue a fazer suas “escolhas” (as quais, em última análise, se traduzem em decisões de compra).

Mesmo que a finalidade seja conquistar o afeto de mais e mais gente, tudo que qualquer indivíduo tem de singular acaba aplainado. Uma nação inteira sob um único formato. Para nós mesmos, somos pessoas especiais, o que está devidamente documentado em fotos maravilhosas. Ocasionalmente, também compramos coisas – fato que consideramos apenas incidental. No entanto, as fortunas que a publicidade fará desaguar no Facebook – se, e quando Zuckerberg conseguir convencer 500 milhões de pessoas a levarem consigo, pela internet afora, suas identidades do Facebook –, esse dinheiro nos vê sob um prisma inverso. Para os anunciantes, somos nossa capacidade de compra, anexada a algumas fotos pessoais totalmente irrelevantes.

Será possível que nos vejamos agora dessa maneira? Achei significativo que, a caminho do cinema, enquanto fazia alguns cálculos mentais elementares (a idade que eu tinha quando estava em Harvard; a idade que tenho hoje), eu tenha tido um ataque de pânico típico de pessoa 1.0. Em pouco tempo vou fazer 40 anos, logo depois 50, e um pouco mais tarde estarei morta. Comecei a suar como Zuckerberg, e meu coração enlouqueceu no peito. Precisei parar e ficar um tempo apoiada numa lata de lixo. Será que esse tipo de sentimento cabe no Facebook? Percebi – e fiquei envergonhada de ter percebido – que quando uma adolescente é assassinada, pelo menos na Inglaterra, seu mural do Facebook muitas vezes se cobre de mensagens que parecem não se ter dado conta da gravidade do que ocorreu. Que peeeena, querida! Ai que saudaaade!! Agora vc tá com os anginhos do séu. Lembrei que adorava muuuuito as suas piadas rsrsrs! PAZ! bjs.

Quando leio esses posts, costumo travar uma discussão interna: “É apenas pela pouca instrução de quem escreve. Os sentimentos são os mesmos de todos nós, só não dominam a linguagem ao ponto de exprimir melhor o que sentem.” Mas outra parte minha nutre pensamentos mais sombrios e assustadores. Dado que o mural da menina ainda está no ar, será que essas jovens na verdade acreditam que, de algum modo, a morta continua viva? E que diferença faz se, no fim das contas, todo o contato com ela sempre foi virtual?

(...) Devemos então resistir ao Facebook? Nele, tudo é reduzido à escala do seu fundador. É azul porque, por acaso, Zuckerberg sofre de um daltonismo que não distingue o verde do vermelho. “O azul é a cor mais bem definida para mim – enxergo todos os tons de azul.” Nele, existe a ação poke, de “cutucar”, porque é o mesmo gesto que alguns rapazes tímidos usam para chamar a atenção das moças que eles têm medo de abordar com palavras. Concentra-se em torno de informações triviais porque, para Mark Zuckerberg, a troca de trivialidades pessoais é o que constitui a “amizade”. Estávamos destinados a começar uma vida on-line, o que prometia ser extraordinário. Mas que tipo de vida? Contemple seu mural do Facebook de uma certa distância: de repente não começa a ficar meio ridículo que a sua vida esteja nesse formato?

A última defesa de todo viciado em Facebook é a seguinte: mas ele me permite manter contato com pessoas distantes! Só que tanto o e-mail quanto o Skype cumprem o mesmo papel, com a vantagem adicional de não obrigar ninguém a estabelecer uma interface com a mente de Mark Zuckerberg – mas sabe como é, fazer o quê.

Todo mundo sabe como é. Se alguém realmente quisesse escrever para essas pessoas distantes, ou ir visitá-las, simplesmente escrevia ou ia visitar. O que queremos, na verdade, é realizar apenas o mínimo dos mínimos, como qualquer estudante de 19 anos que preferisse fazer outra coisa, ou não fazer nada.

(...) Nesse sentido, A Rede Social não é um retrato cruel de uma pessoa real chamada “Mark Zuckerberg”. É um retrato cruel de nós mesmos: 500 milhões de seres pensantes enredados nas ideias descuidadas mais recentes de um segundanista de Harvard."


e você ainda quer continuar se diminuindo no caralivro? Se mostrando como coisas que curte e grupos e fotos? Eu não. De verdade, estou fora.

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